Antes de qualquer outra consideração sobre o que eu pretendo transmitir neste espaço, vou tentar definir a palavra que todos conhecemos e utilizamos, a palavra “parvo”. Afinal, o que pretende transmitir esta expressão tão utilizada, “ser parvo”. Será que você sabe, caro leitor? A palavra parvoíce define-se da seguinte forma, atitude que revela falta de inteligência ou de bom senso. Sendo que a inteligência implica o acto de interpretar e o senso, a capacidade de julgar.
Interpretar o que está a acontecer ou o que nos estão a dizer ou a fazer, não parece muito difícil. Julgar, muito menos. Então porque será que, por vezes, podemos ser tomados como parvos. Simplesmente porque nem sempre interpretamos de forma correcta o que nos rodeia, não por não sermos inteligentes, mas sim porque não detemos as competências adequadas ou porque nem sempre a nossa capacidade de raciocínio está no seu melhor. A verdade é que ninguém detém todos as competências para conseguir interpretar tudo e que são raras as pessoas cujo raciocínio nunca falha. Nesse sentido é normal que por vezes nos julguem dessa forma. Pode esse julgamento ser verdadeiro, mas desde que devidamente evidenciado. Porque caso contrário, pode-se correr o risco de julgar mal ou de forma leviana, isto é, sem o tal bom senso! E julgar mal e não ter bom senso também está implícito na parvoíce. Logo, é tão parvo quem julga levianamente como quem, levianamente, interpreta mal algum acontecimento. Ser parvo, sem maldade, não é negativo. Às vezes até pode ajudar, mas desde que esta tenha a capacidade de abafar a maldade alheia. Podemos não saber tudo, e podemos igualmente não estar em plena forma. E podemos de vez em quando entrar na parvoíce. Mas sempre, sem maldade.
Eu evito ser parva, apesar de às vezes cair na tentação de o ser. A cautela está sempre presente principalmente quando sinto que me estão a tentar manipular. Às vezes cedo à manipulação sem, no entanto, entrar no barco. Para ver qual o real destino da viagem não começada. Cautelosa, mas não desconfiada. Acredito, sem nunca colocar a desconfiança à frente do raciocínio. Mas acreditar demais nos outros, caro leitor, está muito próximo da ingenuidade. Sendo que a ingenuidade significa credulidade em demasia.
A parvoíce e a ingenuidade são características que se vão alterando com a idade. Não querendo isto dizer que estas melhoram ou pioram. Podem estar sempre presentes ou só aparecerem em situações muito específicas. Ou desaparecer por completo. Mas sinceramente, caro leitor, eu não acredito nessa última hipótese. Ser parvo ou ingénuo de vez em quando não faz mal, desde que não faça mal. O que faz mal, caro leitor, é nós sermos manipulados de forma consciente por alguém ou alguém se aproveitar da ingenuidade que ainda nos resta.
Podemos evitar fazer “figura de parvo”, evitando opinar ou fazer o que é da competência dos outros e para o qual não temos conhecimento algum. Devemos respeitar a sabedoria dos outros e não sermos ingénuos considerando que éramos capazes de fazer igual ou melhor.
Respeito o meu mecânico, porque faz o que eu não consigo fazer. Respeito o meu médico ou a enfermeira que trabalha com ele de igual forma. Os professores dos meus filhos. A minha contabilista e todos os que trabalham com contas. O meu canalizador que nunca tem tempo para nada. O carteiro da minha rua e a sua simpatia. O empregado de balcão e a sua tolerância. A minha florista e a sua capacidade de colorir. A minha cabeleireira e a minha esteticista pelo seu foco na minha potencial beleza. O meu arquitecto pela sua capacidade criativa. Os jornalistas porque me mantêm informada e os desportistas porque me distraem. Os padeiros, os pasteleiros, os cozinheiros e seus ajudantes, porque gosto de comer. Os electricistas sem agenda. Os almeidas e os trabalhadores da limpeza. Os advogados e solicitadores, sobretudo aqueles que defendem os meus interesses. Respeito todos os trabalhadores da construção civil. Os operários fabris. Os fotógrafos, os estilistas e todos os outros profissionais da moda. A veterinária da Teka e da Migalhas. A minha dentista e a sua paciência. Todos os profissionais de saúde. Os bombeiros. E os polícias da minha terra. Respeito o trabalho e empenho dos banqueiros e bancários. Dos comerciais e dos agentes de seguros. Respeito o altruísmo de quem defende causas. Os vendedores, mesmo aqueles que me conseguem levar pelo consumismo daquilo que não preciso. Todos os empresários em geral. Respeito todos os trabalhadores diferenciados ou indiferenciados. Tantas profissões das quais pouco ou nada sei. Respeito a sabedoria desses profissionais todos. Faria com certeza, figura de parva se tentasse fazer o que eles fazem. Seria parva e ingénua, mas não passaria disso. Aos meus colegas, o meu respeito redobrado. E os políticos, caros leitores, trabalhadores que se querem íntegros e honestos. Respeito a dedicação e a entrega dos políticos. Não aceito, caro leitor, é ser manipulada por estes ou alguém a mando deles com base na minha falta de competência em relação a determinados assuntos. Simplesmente porque a minha parvoíce e a minha ingenuidade não está ao dispor. E a sua, caro leitor, está?
Caros políticos, eu quero ser vacinada, sim. Mas pretendo ser vacinada com total segurança. Um direito que me assiste, a mim e a todos os portugueses. A Exma. Senhora Directora-geral da Saúde, baseada na competência alheia e num estudo encomendado, insinuou que não. A mesma referiu em directo e com um sorriso nos lábios, que “a recusa de uma vacina é recusar proteger-se contra uma doença grave”. A sério, dra. Graça Freitas?! Seremos nós assim tão parvos e ingénuos? E apela aos portugueses, com o mesmo sorriso simpático, para que estes ponderem muito bem antes de recusar. Bem, será este um aviso amigável, com a leve penalização de ficar no fim da fila. Ela ainda afirmou, “que podemos vir a desenvolver uma doença potencialmente grave a ponto de ser letal”. Pois. Ou se morre da doença ou da prevenção. A dra. Graça Freitas acaba referindo, “e se nós colocamos uma vacina a circular é porque consideramos que os seus benefícios superam os riscos”. Pois é Exma. Senhora, ‘tipo’ algumas vidas para os pardais. Recordando uma técnica utilizada pelos agricultores na sementeira, quando estes lançam a semente para o terreno, e no final atiram mais umas mãozadas dizendo que estas são para os pardais.
Parvoíce e ingenuidade, ou vidas para os pardais.