“Humildade ficará nos dicionários como esqueleto em museu arqueológico.
… Simplesmente, nesse dia da nova criação, eu já terei partido.
A minha carne estará funda de mais para sentir o beliscão da alegria”
(Mário Dionísio)
1. Conheci o médico João Semedo em 2005 quando ele, em representação do Bloco de Esquerda, e eu, em representação do Partido Socialista, disputámos com Valentim Loureiro e outros candidatos (Drº. Gonçalves Pereira/PSD e Drº. Pimenta Dias/CDU) a presidência da Câmara de Gondomar.
Recordo que foi necessário nesse período de grandes tensões e dificuldades a unidade das forças democráticas, num tempo em que cumulativamente se desencadeou o processo Apito Dourado e em que se registaram agressões físicas brutais ao presidente do PS Gondomar, Ricardo Bexiga – tempo esse que exigiu coragem e firmeza na defesa dos valores do Poder Local democrático.
Sempre considerei desde essa altura João Semedo como uma mais valia que ultrapassava até o próprio projecto político que defendia. Provou-o agora, uma vez mais, numa entrevista recente em que entre tantas coisas da actualidade política e social, também fala abertamente do cancro que lhe roubou a voz.
João Semedo é um homem respeitável, bom e corajoso que está na política – uma raridade e um exemplo.
2. Não visitei ainda com o tempo necessário o renovado Museu Regional de Paredes de Coura, embora ficasse surpreendido com o que já nele consegui observar – mas vou completar essa visita brevemente.
Mas já visitei, nas férias em Agosto, a Exposição Bibliográfica e Documental, no Arquivo Municipal, inserida nas comemorações dos 500 anos da atribuição da Carta do Foral de Coura.
Lá está patente a carta mais notável da nossa saga andarilha pelo mundo – considerada uma obra prima da literatura universal – que Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei D. Manuel I a relatar o desembarque dos portugueses, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, no Brasil.
Pero Vaz de Caminha extasiado com o Novo Mundo, com os índios e a sua maneira de viver, com o clima e as suas riquezas naturais, redigiu um documento que assustou o mundo de então: o Paraíso existia na Terra!
Povos sem escravatura, sem miséria, a viverem em comunidades solidárias, libertárias, igualitárias. Foi isso que os portugueses encontraram ao chegarem ao Brasil. Por isso essa carta foi censurada pelos poderosos da época (bispos e nobres), foi escondida, só sendo resgatada no sec. XVIII e é um dos documentos mais subversores e luminosos do nosso património, cujo original se encontra hoje na Torre do Tombo.
Já nessa época muitas famílias em Portugal tinham um ou mais membros envolvidos na epopeia dos descobrimentos e, mais tarde, particularmente os homens a norte do Douro e em especial do Minho, pisaram e viveram grandes aventuras em terras do Brasil. É que de uma maneira geral, nós portugueses viajamos sempre para fora de nós. É da nossa natureza, ontem e hoje, talvez sempre – e não vale a pena dramatizar essa situação: antes bem fora, do que mal dentro!
3. A “geração de ouro” courense que teve o arrojo, visão e empenho em criar, no ano de 1993, um festival de música que já conta com o maior número de edições em Portugal, ainda por cima que ostenta na sua designação o nome do seu concelho rural (talvez o único caso em Portugal e na Europa), tem conseguido a cada ano que passa, progressivamente, projectar e qualifi car este grande evento do panorama musical português e internacional, como o evidenciou mais uma vez 2015.
É um investimento inimaginável para o presente e futuro a presença de tantos músicos de renome e desta geração de milhares de jovens em Paredes de Coura, neste “encontro íntimo” de música, natureza, poesia e hospitalidade, só possíveis num verdadeiro “Território com Alma”.
Exemplar e justo é também referir a forma como a autarquia responde a esta “enchente” de Verão (festivaleiros e filhos da terra em regresso a casa de férias), com a diversificação da oferta cultural e até na própria limpeza do espaço público.
4. Está de parabéns o PS de Paredes de Coura. A indicação do jovem cientista Tiago Brandão Rodrigues, investigador internacional na luta contra o cancro, nascido e criado nas terras de Coura, para cabeça-de-lista do PS no distrito, é um orgulho para todos porque ele integra e também faz parte da actual “geração de ouro courense” e, também, nacional, como cientista e como cidadão exemplar.
Parabéns ao próprio e à sua respeitada família, porque com cidadãos deste calibre a actividade política pode recuperar a dignidade de que necessita, também no distrito de Viana do Castelo onde se cometeu na legislatura que agora termina um grande crime económico e social – o encerramento dos estaleiros navais. Com ele na AR, não continuarão os autarcas do Alto Minho a ser tratados como “os primos da província”, como tem vindo quase sempre a acontecer – ou não tem sido assim, senhor deputado Carlos Abreu Amorim? (Para quem não o conhece, cabeça-de-lista do PSD em 2011 e agora em 2015 pela coligação PSD/CDS por Viana do Castelo).