Chama-se Pedro Caldas Costa, tem 28 anos e o mundo já à espera que se concretize o seu mais do que natural sucesso musical.
Nasceu em Vizela, escolheu Paredes de Coura para viver, Rubiães para amar e a música como forma de vida. Talento é coisa que não lhe falta, o que somado à sua dedicação e à humildade própria de quem sente prazer em calcorrear os caminhos do conhecimento, farão dele um nome a ter em conta. Após vários espectáculos dados um pouco por todo o país, o lançamento do seu primeiro EP “West Coast Man” mostra-nos um músico apaixonado pelos sons que cruzam a ruralidade com o horizonte sem fim das harmonias urbanas que lhe marcam a voz timbrada e o dedilhar atlético das cordas que brotam doçura no mesmo plano em que moram o arrojo e a irreverência. Assumindo as influências de Neil Young, parte do folk, para aqui e para ali, nunca perdendo todavia o norte. Uma espécie de liberdade tranquila é aquilo que este criador transmite a quem o ouve; ele e a sua guitarra, ele e a sua música, ele e a sua presença, de voz quente e harmonias sem fronteiras. Canta sobretudo em inglês, todavia todos recordamos como também brilhou intensamente quando abriu o espectáculo de Paulo de Carvalho interpretando alguns clássicos de Zeca, Fausto e Adriano. A língua portuguesa não o assusta, pois, sabendo-se que, mais tarde ou mais cedo, comporá de igual modo na língua materna.
Ao anunciar o lançamento do seu primeiro álbum para 2019, Pedro Caldas Costa deixa-nos a todos com água na boca, ansiosos pelo dia 17 de Novembro para vermos a sua actuação, como figura de proa, no Festival Para Gente Sentada, em Braga, certame da responsabilidade da Ritmos. É então com este músico de mão cheia, já courense de coração e com Passagem de Ano agendada para a nossa Vila, após convite “muito honroso” do município, que o leitor pode marcar encontro nas linhas que se seguem.
Como começou a tua paixão pela música?
O meu irmão mais velho tocava bateria numa banda, The Zool, que ainda existe, e de vez em quando eu ia espreitar os ensaios deles. Tinha na altura 13 anos e lembro-me que pouco tempo depois já tocava bateria. Toquei em diferentes projectos com amigos, mais tarde comecei a tocar guitarra eléctrica e só depois veio a guitarra acústica. Ainda andei um mês na Academia de Música de Vizela a ter aulas de formação musical, mas acabei por desistir. Reconheço a importância de aprender, mas faço-o à minha maneira e sou bastante exigente comigo.
E quando é que surge o projecto West Coast Man?
Com a guitarra acústica comecei a cantar, o pessoal gostou e comecei a tocar covers. No início tocava de tudo, aquilo que me pediam e que eu achava que as pessoas iam gostar, até que o meu gosto começou a definir-se e passei a tocar folk, desde Neil Young até The Tallest Man Earth. A necessidade de escrever as minhas cancões foi sendo cada vez mais forte e em 2015 gravei o meu primeiro single “Bird Soul”. É com este single que
surge West Coast Man. Em 2016 gravei o segundo single, “Sing Only For Me”, e em 2017 gravei o meu primeiro EP.
Depois de ouvirmos o teu EP ficamos agora com a certeza que
estamos diante de um músico onde a irreverência se cruza com algum
tradicionalismo. É este o teu caminho?
Sim, talvez. Não sei… E não quero saber. Não sei onde vou parar, quero ter essa liberdade quando estou a compor. A paixão pelo folk parece-me que veio para ficar, mas não posso prever o futuro. Neste momento, as minhas influências vêm do folk, desde Crosby Stills Nash and Young e Simon and Garfunkel até Lord Huron, Darlingside e claro, os Fleet Foxes.
Por agora, passo os dias à procura de ser melhor, de fazer melhores canções. Não sei definir-me, não me preocupo com isso.
Estás a viver em Paredes de Coura há quase 4 anos, essa mudança influenciou a tua música?
Claro que sim, por vários motivos. Gosto muito de estar aqui. Todos os anos vinha ao Festival e já tinha um carinho muito grande por esta terra. Aliás, eu nunca gostei de cidades, sonhava em viver no monte, sempre me fascinou a vida rural, a mudança das estações, as serras, os animais, o isolamento, o silêncio… Em Coura todo o meu imaginário passou a ser realidade. Sempre quis ter um cavalo, era um sonho antigo, mal cheguei aqui encontrei uma poldra a morrer no meio do monte, devia ter dias, mas lá sobreviveu e tenho a garrana mais linda de Coura e arredores. Adorava ter conhecido o meu sogro, que pelos visto era um apaixonado por cavalos, não sei se ele ia gostar de me conhecer… Em Coura encontrei o amor… encontrei espaço para criar. Passei do oito para o oitenta, em casa os meus pais passavam a vida a dizer-me que a música não dava de comer a ninguém, aqui tenho uma pessoa todos os dias a dizer-me que o mais importante é viver o sonho. Deixei de estudar muito novo porque faltava às aulas para ir para casa tocar, era uma obsessão. Como não queria estudar, os meus pais obrigaram-me a trabalhar. Passei muitos anos metido numa serralharia, todo o dinheiro que ganhei gastei-o em material de música. Não tenho boas recordações desse tempo, mas foram as consequências das minhas escolhas. Quando vim pra Coura deixei o meu trabalho, passei a ter tempo para tocar, voltei a estudar, já estou no 2º ano de uma licenciatura em Artes, tenho um cavalo, o que é que se pode pedir mais? Estou feliz em Coura, tenho a vida que sempre sonhei, simples, mas com significado e com toda a liberdade do mundo. O que faço com isto? Canções. As melhores que conseguir.
Paredes de Coura é, neste momento, a tua terra de afectos e de inspiração. Ainda assim, foi em Vizela que lançaste o EP, em Maio deste ano.
Sim, a apresentação deste EP tinha de ser na minha terra, e a Câmara Municipal de Vizela e a rádio fizeram questão de me apoiar. Senti que as pessoas estavam felizes por mim, que gostaram do meu trabalho. Eu estava muito nervoso, mas criou-se um ambiente muito especial e o concerto correu bem. Depois, a malta viu-se obrigada a comprar CD’s, dei alguns autógrafos… Depois disso, comecei a tentar divulgar o meu trabalho, embora eu não tenha muito jeito para isso. Mas as coisas estão a acontecer, não tenho pressa. Fiz alguns concertos, Vigo, Porto, Lisboa, Braga, Guimarães, Vizela…Vou estar em Braga, no Festival Para Gente Sentada, em Novembro, este convite deixou-me muito feliz. Também fui convidado para fazer a Passagem de Ano na vila de Paredes de Coura.
Quais são as tuas expectativas?
Crescer como músico, tocar muito, ser cada vez melhor. Em breve vou lançar mais um single e também já estou a preparar o lançamento do meu primeiro álbum, que sairá em 2019.