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Política Quântica

1 de Dezembro de 2015 | Helena Ramos Fernandes
Política Quântica
Opinião

Coloque uma bola de ténis em cima do seu frigorífico. Agora espere. Olhe bem para ela.

Vá buscá-la. Segure-a bem e leve-a para alguma divisão da casa. O seu quarto, por exemplo.

Coloque a bola em cima da cama. Observe-a. Questão: Acha possível que essa bola esteja em cima do frigorífico?

Claro que não. É impossível que o mesmo objecto esteja em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. O senso comum diz-nos isto desde sempre. Mas será que é isto que acontece em todo o universo?

Não sou uma especialista no assunto mas, de acordo com umas leituras que fiz com o meu filho nos últimos dias, existe todo um mundo bizarro à nossa volta onde acontecem fenómenos que só a ciência consegue explicar. Imagine que um átomo pode estar em dois sítios ao mesmo tempo. A física quântica garante que isso é mesmo possível.

Neste mundo microscópico, os objectos já não se movem ao longo de um caminho definido (tal como o caro leitor moveu a bola de ténis de um lugar para o outro). Os objectos, neste caso os átomos, podem tomar direcções diferentes em simultâneo e acabar em sítios diferentes… ao mesmo tempo! Eu sei que parece absurdo. A mim também me pareceu. Mas é a ciência que o diz.

Fiquei a pensar nisto. Saltei para outras leituras e dei por mim a ler factos dos novos ministros de António Costa. De rosto em rosto, parei num nome: João Soares. Esse mesmo.

Fiquei incrédula. Dizem que o povo tem memória curta. Eu, pessoalmente, não acredito. Mas o rosto que eu estava a ver era o mesmo João Soares que no ano passado, com todas as palavras, acusou António Costa de sofrer de uma “crise de egocentrismo”. Não. Não podia ser.

Custava a acreditar que o novo Primeiro-ministro tinha escolhido para a pasta da Cultura um homem que, há um ano, lamentava o “disparate completo” em que Costa se metia ao disputar a liderança do PS. Um homem que, há um ano, lembrou as eleições de 2013, nas quais votou em António Costa para a presidente da autarquia de Lisboa. Dizia então João Soares que é um “desrespeito” pelo seu voto que agora este responsável político pense em entregar a Câmara (de Lisboa) a outra pessoa.

João Soares falava assim. E agora está com António Costa. É estranho, não é?

Mas as bizarrias não se ficam por aqui.

Durante a última campanha eleitoral, o líder do PCP disse no Porto esta frase: “Não vou falar do PS, senão António Costa fica nervoso”. E eu sorri, mas de pena. E continuei a ler as restantes linhas que transcreviam o discurso de Jerónimo de Sousa. Perante centenas de militantes, o comunista afirmou que a “política de destruição e de retrocesso económico e social foi conduzida à vez pelo PS, PSD e CDS”. Sim! Ele disse PS!

Sabe onde está hoje Jerónimo de Sousa, caro leitor? Está com António Costa.

Mas a Catarina Martins também teve os seus momentos “estranhos”. Volto a citar aquele mais icónico do qual já falei na crónica passada. “É uma desilusão ver como o PS não aceita compromissos e mantém uma agenda de despedimentos”, dizia a dirigente bloquista antes das legislativas.

Sabe onde está hoje Catarina Martins, caro leitor? Está com António Costa.

Pois bem. Postos estes exemplos, eis que chegamos ao mundo daquela a que chamo a Política Quântica. Um mundo em que, tal como aqueles átomos, existem políticos capazes de estar em duas posições ao mesmo tempo. São “seguristas” e “costistas” ao mesmo tempo… são comunistas e socialistas ao mesmo tempo… são bloquistas e socialistas ao mesmo tempo. Toda uma realidade microscópica que carece de estudo. Ou não.

É curioso que, à semelhança do que se passa na ciência, continuam também por explicar verdadeiramente as razões que levam a que estes fenómenos aconteçam. Mais curioso ainda é o tamanho do feito realizado por esta “dita” coligação de esquerda: pequeno, microscópico. Politicamente quântico.

Esta é a minha posição. Esta é a minha convicção.

Mas fica uma nota final. Como courense que sou, não posso esconder um ponto de satisfação ao ler o nome de um nosso conterrâneo no Executivo apresentado por António Costa: Tiago Brandão Rodrigues. O Ministério que passa a liderar é de uma responsabilidade elevadíssima. Faço os mais sinceros votos de que tudo corra pelo melhor, a bem do nosso concelho, do distrito e do país. Acima de tudo, Paredes de Coura.

Curiosidade:

Ainda pelo que li sobre o mundo quântico, ele é tão espantoso que a mesma partícula pode estar em dois sítios ao mesmo tempo… e em épocas diferentes! Quase todos nós, nem que seja uma vez na vida, já discutimos a possibilidade de viajar no tempo. Mas a conversa termina quase sempre no “paradoxo do avô” (se um indivíduo viajasse no tempo e matasse o seu tetravô, continuaria vivo no presente?). A ciência admite que esse paradoxo deixa de existir na física quântica. O mesmo passa-se, pelos vistos, neste campo da política. O país arrisca hoje os mesmos erros feitos entre 2005 e 2011. Com uma diferença: a maioria dos portugueses não pediu nada disso.

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