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Portugal em chamas ou Portugal chama?

24 de Setembro de 2024 | Helena Ramos Fernandes
Portugal em chamas ou Portugal chama?
Opinião

Portugal está em chamas, ou, dependendo do que acontecer até a data em que o caro leitor ler este meu desabafo, em rescaldo numa área demasiadamente grande e totalmente queimada.

No passado dia 18 atravessei o país para participar no Congresso Ibérico Agropecuário y Florestal, na cidade de Cáceres, no pais vizinho. Um evento organizado em parceria entre a CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e ASAJA (Asociación Agrária Jóvenes Agricultores de Salamanca) que já vai na sua terceira edição e que alterna a sua localização entre Espanha e Portugal. Os grandes temas deste ano foram a pecuária extensiva como mitigadora das alterações climáticas e as possíveis soluções para a agricultura, pecuária e gestão florestal. Afinal, caros leitores, não será necessário raciocinar muito para perceber que estes três sectores devem seguir juntos, num ambiente de comensalismo. E para quem não sabe, o comensalismo representa um tipo de relação positiva, levando ao desenvolvimento de interacções benéficas. É importante que todos os actores da sociedade actual percebem que essa coexistência pode ser uma das soluções para resolver determinados problemas. Reconhecendo a floresta como superfície com bom potencial para a pastorícia na pecuária extensiva. Reconhecendo a agropecuária como uma das soluções para a manutenção dos espaços florestais. No fundo, caro leitor, abrir janelas para a pastorícia agroflorestal, e para o potencial agropecuário da floresta. Fechar portas para os interesses da floresta queimada, abrir janelas com políticas inibidoras desses mesmos interesses.

Na viagem de ida atravessei o Norte em volta de fumo e cinzas. Um cenário assustador, uma realidade dura, um desastre ambiental e paisagistico cuja culpa acaba sempre por morrer sozinha e incógnita. Não me venham dizer que prender e castigar, apesar de estes merecerem o inferno, os incendiários, resolve a questão que persiste: de quem é a culpa? Uma simples pergunta que fabrica incendiários. E a qual todos parecem saber responder seja de um lado, seja de outro.

Ainda nesta viagem de ida, o meu GPS levou-me para as terras vizinhas pelos lados de Castelo Branco, e nesse percurso, depois da travessia da nuvem de cinzas, decidi, sem entender bem o porquê deste acto, parar para recarregar baterias em Pedrógão Grande. Uma vila, caros leitores, onde paira a tristeza dissimulada pela rotina do dia-a-dia e onde o pesar está cimentado nas feições dos sobreviventes. Aqueles que não esquecem, mas que infelizmente já foram esquecidos.

Os erros cometidos, e não devidamente sanados e corrigidos, quando são enterrados, acabam sempre por voltar a aparecer, tal como infestantes persistentes. Nestas repetidas infestações, o que seria de nós se não fosse a coragem e a dedicação dos bombeiros portugueses, que merecem muito mais do que um acto de agradecimento, merecem reconhecimento e sobretudo respeito.

Para terminar, meus caros políticos, haja verdadeira vontade em agir. Portugal chama! Chama por soluções, por vontade política, por justiça, por tudo o que possa travar este Portugal em chamas.

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