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QUEM GANHA NESTE JOGO QUE OPÕE O HOMEM AO LOBO? : OS LESADOS, AS INDEMNIZAÇÕES, A BIOLOGIA…

10 de Julho de 2019 | José Luis Freitas
QUEM GANHA NESTE JOGO QUE OPÕE O HOMEM AO LOBO? : OS LESADOS, AS INDEMNIZAÇÕES, A BIOLOGIA…
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Não há volta a dar. Qualquer debate sobre o lobo-ibérico vai sempre desembocar na necessidade de fazer coexistir o pastoreio com o maior predador terrestre do concelho e da região.

Existem 30 lobos nas seis alcateias do Alto Minho: Soajo, Vez, Peneda, Boulhosa, Cruz Vermelha e Serra de Arga. Os números são do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, conseguidos através de um projecto de monitorização do lobo-ibérico.

Este grupo de investigadores aponta mesmo a alcateia da Boulhosa, que ocupa as serras a norte de Paredes de Coura, como a que estará em maior risco de extinção. Também a da Cruz Vermelha, entre o sul de Paredes de Coura e do rio Lima, preocupa, embora esta apresente uma população mais estável.

Estando-se perante uma espécie totalmente protegida no nosso país, é alarmante constatar que cerca de metade da população sinalizada acaba por morrer, quase sempre devido a abate ilegal.

O conflito entre o homem e o lobo, baseado nos prejuízos resultantes da sua atracção pelo gado doméstico valeu-lhe o estatuto de inimigo a abater, contribuindo de forma significativa para a regressão da espécie, colocando em risco a sua conservação.

“Andam a soltar lobos! O pessoal do Parque largou uma série de lobos no monte.” Frases como esta são facilmente ouvidas nas nossas freguesias. As versões são diversificadas e quase miraculosas, fundamentadas numa imaginação fértil e numa crença simplista, isto quer sejam contadas por um pastor de Agualonga ou pelo dono do Café de Santa Maria de Todo-o-Mundo…

As populações rurais parecem acreditar que a reprodução dos lobos não é um fenómeno natural, mas sim o resultado da sua libertação, às dezenas ou às centenas, no Gerês ou no Corno de Bico, ao mesmo tempo, esta ideia errada de que estão a ser prejudicados deliberadamente aumenta o sentimento negativo em relação ao canídeo e contribui para intensificar o desejo de o exterminar. Não, ninguém anda a soltar lobos, acreditem.

A origem deste mito parece estar relacionada com o desconhecimento da biologia do lobo, em que as variações bruscas nos efectivos e na distribuição do lobo, próprias da dinâmica natural da espécie, nomeadamente com o aumento de indivíduos agora no Verão, devido ao nascimento das crias (motivo de um maior número de ataques a rebanhos) é visto pelos pastores como “mais uma libertação de lobos na região”.

Muitos têm sido os ataques a rebanhos que este jornal tem noticiado, edição sim, edição também, sucedem-se os relatos de ovinos mortos pelo lobo, relatos estes que se estendem por todas as freguesias do concelho e que por vezes retratam a dor e o desalento daqueles que tão pouco tendo se vêem assim privados das suas migalhas de subsistência: os seus animais, neste caso.

É impossível passar qualquer mensagem conservacionista e esperar uma mudança de atitude quando as pessoas sentem limitações e problemas por não serem indemnizadas atempadamente. O actual sistema de indemnizações tem sido alvo de várias críticas. Por um lado não proporciona pagamentos expeditos e justos, sofre de vários problemas, nomeadamente na exigência e condições de pastoreio e na própria referenciação das vítimas: uma alcateia com quatro ou cinco lobos facilmente ataca uma ovelha, mesmo um vitelo ou um poldro. Quando o pastor vai à procura do animal, raramente o encontra. Como não há vestígios, não é indemnizado. Acaba por ser um sistema perverso e injusto que não responsabiliza os proprietários nem ajuda a conservar o lobo.

“Para nós, neste conflito não existe o lado do lobo e o lado do homem, só existe o lado do problema e o lado das soluções. Nós queremos estar, definitivamente, do lado das soluções. Não queremos milagres, procuramos soluções”, nestas palavras, Vítor Paulo Pereira, ao seu estilo, sintetiza uma postura municipal que absolutamente compartilho; a protecção da biodiversidade não como opção, mas como “uma questão de sobrevivência enquanto território sustentável e criativo”.

Sem ser pastor nem mesmo grande conhecedor do assunto, e não tendo outra base de estudo/sustentação, para além das notícias trazidas a público através das páginas deste jornal, atrever-me-ia a dizer que o número de animais vitimados pelo lobo no nosso concelho, ovinos na sua grandíssima maioria, não ultrapassaria muito a centena, com prejuízos totais de menos de uma dezena de milhares de euros, o que, sendo um valor considerável para os lesados, por vezes a viverem ao “cêntimo nosso de cada dia”, pouco será/seria para os cofres públicos.

É que há coisas pequenas a provocar grandes barulhos, e há coisas “lá de cima” a quem malham cá em baixo, e não me parece nada justo que o natural descontentamento dos lesados sirva para apontar o dedo a iniciativas, decisões e posturas municipais necessariamente arrojadas, direccionadas ao equilíbrio ambiental e à defesa da biodiversidade, enfim, seguindo o único caminho onde o futuro será possível.

Em forma de conclusão, deixo primeiro uma dúvida e depois uma certeza: Neste caso das vítimas do lobo, seria impossível, atento ao ruído, um executivo municipal, como em tantas outras vezes, substituir-se ao poder central e agilizar processo e pagamento das indemnizações devidas? Qual a certeza? Se puder ser feito, ninguém melhor que Paredes de Coura o fará.

 

Rubiães é um dos alvos do predador

Val em S. Martinho de Coura é visitado pelo lobo, da Serra d’Arga

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