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QUOTIDIANO

26 de Fevereiro de 2019 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Quis o tempo e as suas condições tão variáveis, impostas por agendas diárias sobrecarregadas, que me tivesse encontrado, num evento universitário, em Braga, com Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação, e Vítor Paulo Pereira, Presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura.

Mais um amigo comum aos três, Rui Vieira de Castro, Reitor da Universidade do Minho, ficou numa selfie, tirada por Vítor Paulo Pereira, no museu Nogueira da Silva, depois de momentos interessantes de conversa, sempre com Coura dentro.

Antes desse momento, Tiago Brandão Rodrigues teve à sua frente, ainda no Largo do Paço, depois da cerimónia ter terminado, um batalhão de jornalistas, que enfrentou com a mais serena tranquilidade, mesmo que as perguntas sejam quase sempre politicamente ardilosas.

O almoço esperava-nos, mas os encontros com outros amigos sucediam-se e lá tivemos tempo para falarmos um pouco, enquanto caminhávamos em direção a um dos centros da cidade.

Os jornalistas tinham desaparecido. A rua do Souto estava movimentada, já quase perto das três horas da tarde. Em passo lento, lá fomos andando e conversando.

Num ápice, Tiago Brandão Rodrigues baixou-se, apanhou uma garrafa de plástico, já sem água. Do outro lado da rua existia um caixote de lixo e nele foi colocar a garrafa.

Reparei nesse gesto e olhei para as pessoas, sentadas na esplanada do café “A Brasileira”, atentas ao que se passara.

Talvez tenham comentado entre si. Ninguém deve ter tirado uma foto.

Nenhum jornalista teve a oportunidade de registar esse facto. O frenesim dos microfones e das câmaras digitais desaparecera. O que era de interesse político ficara esgotado, minutos antes.

O pormenor cívico que se impunha noticiar ficou no silêncio, no gesto de quem o pratica e na ignorância de quem o poderia divulgar.

Tiago Brandão Rodrigues ainda comentou que estava a colocar a garrafa num caixote de lixo normal e não num ponto de reciclagem, mas este não existia por perto e seria impossível exigir tanto a quem acabara de praticar um ato cívico notável.

Apenas uma garrafa de plástico, jogada para o chão, sem água, sujeita aos pontapés dos alunos que nesse dia andavam pela cidade.

É assim a vida de um político.

Existe na multidão das perguntas, vê a sua vida escrutinada no seu passado mais longínquo e no seu presente mais recente.

Porém, os seus pequenos gestos são esquecidos, ignorados e silenciados.

Talvez um ministro não seja um deus das pequenas coisas, parafraseando o título do romance escrito por uma autora indiana.

 

(José Augusto Pacheco)

 

 

 

 

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