Como sempre, religiosamente, o amigo Tinoco acabou de enviar-me uma mensagem, para não me esquecer. Li, respondi, dizendo obrigado, e liguei o computador, retirado da mochila já pronta para viajar até Timor. Estou no aeroporto, não me apraz dizer o nome daquele que fica em Pedras Rubras – aliás, o que interessa o nome dos aeroportos? – e observo o frenesim das pessoas que têm pressa de partir, umas já sentados junto às portas designadas no cartão de embarque, outras esperando ao lado do painel que tudo informa sobre portas, horários e destinos.
Estou na porta 33, pelo fim da tarde, no voo da Lufthansa para Frankurt. A mala já circula pelas catacumbas do aeroporto e faço algumas chamadas e leio emails, mais que muitos, como se fosse um posto de correio ambulante em tempos online. Olho demoradamente pelas paredes envidraçadas e aprecio o tempo cinzento e frio, num sol de chuva de inverno.
E viajo agora mesmo, na pontualidade germânica, por isso, desliguei deste texto.
Recomeço, já a bordo, de um avião A380-800 que me levará até Singapura, a pérola do oriente, símbolo da economia de mercado e da sua lógica politicamente controlada. São 12 longas horas, mas uma viagem destas custa tanto a passar como uma de duas ou três goras. E pensei: apenas estarei dentro deste avião seis viagens consecutivas entre Coura e Braga, de ida e volta, se for utilizada a estrada nacional e se cada percurso durar a média de uma hora. Não custará absolutamente nada. É uma questão de mentalidade, na certeza de que o mundo é, deveras, pequeno, mesmo que tenhamos pela frente uma viagem longínqua.
A passagem por Frankfurt foi rápida e sem filas, já que no horário noturno há menos voos e desse modo tudo se torna mais fácil. A distância entre os terminais, localizáveis por letras, deste aeroporto percorre-se bem a pé, sem stresse e com a calma de quem tem muitas horas pela frente, bem acomodado, com filmes para ver, textos para ler e tempos intermitentes para dormitar. Então, boa-noite, até amanhã, porque já são 22h.
Regresso. Falta uma hora para aterrar. Já lá vão 11 horas, já tomei o pequeno-almoço como lanche, adiantei-me bastante no tempo. Sigo o voo pelas câmaras exteriores do avião e os tufos de nuvens brancas embelezam o céu azul de fim de tarde. Num voo longo, a última hora é a que custa mais a passar. Sai-se do conforto dos 12 000 kms de altitude e de uma velocidade acima dos 800 kms para enfrentar a turbulência da descida.
E aterro em Singapura, num outro fuso horário. O relógio está nas cinco horas da tarde, nove horas em Portugal e amanhã, em Timor, será mais uma, estando para o lado direito do meridiano de Greenwich. A passagem na polícia de fronteira foi rápida, com um controlo minucioso, a mala chegou, o que é sempre um grande alívio, e desta vez não tive de ir para o centro da cidade, tendo ficado num dos vários hotéis do aeroporto, num dos extremos do terminal 3, o que não recomendo a ninguém, não só pela exiguidade das instalações, mas igualmente pela beleza da cidade e do seu centro, que de modo algum pode ser perdido, mesmo que já se conheça muito bem.
Amanhã será outro dia, a caminho de Timor, a terra de sândalo, como Camões lhe chamou nos “Lusíadas”.