Última Hora

QUOTIDIANO

11 de Abril de 2018 | José Augusto Pacheco
QUOTIDIANO
Opinião

Sempre que navego na minha infância, as águas do rio Coura levam-me para memórias bem afetivas e gratas. Com propriedade de suor dos tempos, apesar de outras pessoas por lá terem passado, há uma levada de moinho que tem um nome e que não desisto de a identificar: a levada do Chavasqueira.

Este curso de água alimentava três moinhos: um a montante, mais conhecido pelo moinho do Tio Custódio ou da Tia Mena, e dois a jusante, do Chavasqueira, pois o nome era atribuído a quem os trabalhava e não àqueles que eram seus proprietários.

A Tia Deolinda e o Tio Nelo eram donos e senhores de um ofício de gerações, depois que o milho se tornou a base da alimentação. Havia mais moinhos a sul da ponte da Peideira, pelo menos mais dois, bem como uma serração e um engenho de linho, ambos servidos pela levada do Lavicha.

A levada é um curso de água, estreita e comprida, de modo que a sua força motriz, à saída dos cubos do moinho, exerça pressão sobre o rodízio, em madeira, que tem na base uma roda dentada em pedra e madeira, fazendo-o girar continuamente.

Na parte de cima do rodízio há duas mós sobrepostas, sendo a maior a pedra

“amoladoira”, ou o pé da mó, e a mais pequena a mó, tendo esta no centro um orifício que recebe o grão, guiado pela tramela, e que, pela força de uma justaposição, traça ou mói o grão, transformando-a em farinha, de uma alvura que deleitava os olhos de quem se demorava nas conversas do moinho, qual espaço de confidências e de linguarejar público.

Na parte de cima das mós, numa altura não superior a um metro, há um dispositivo em madeira chamado adelha, onde se despeja o saco do cereal.

À medida que a farinha ia sendo libertada para o espaço do sobrado do moinho, torna-se imperioso varrê-la com paciência e delicadeza, com uma vassoura pequena, de giestas resistentes e secas, para que nada se perca, bastando já o que fica para pagamento da maquia ou do trolho, conforme era uso em Santa, ou seja, a parte com que os moleiros ficavam em troco do trabalho realizado.

E assim existe uma levada com nome!

(Agradeço ao José Silva muitas das palavras aqui utilizadas.)

Comments are closed.