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25 de Outubro de 2022 | José Augusto Pacheco
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Opinião

O mundo está perigosamente turbulento e perturbante. Parece que tempos de tanta crueldade nunca foram vividos por geração alguma, mesmo que se saiba que muita da história da humanidade tem sido escrita com letras pintadas de sangue.

Sem surpresa alguma, a guerra tem sido um dos mecanismos de transformação social, alterando relações de poder, modos de pensar e maneiras de agir, seja a nível regional, seja no contexto mundial.

Desde a guerra do Peloponeso (na Grécia Antiga, entre Atenas e Esparta),  passando pelas guerras Púnicas (entre Roma e Cartago) ou, mais tarde, pela guerra dos 100 anos (entre os reinos de Inglaterra e França), até à II Guerra Mundial, já no século XX, há o denominador comum da soberania  relacionada com o redesenho de fronteiras ou com a  conquista de tronos, em que o desejo do outro, associado à morte, é o ódio mais infame que pode existir em relação à condição humana.

A guerra é, por isso, o grito mais feroz que pode ser vocalizado e expresso em inúmeras palavras, cujo sentido jamais poderemos compreender ou aceitar, pois cada grito de guerra é um ato de tirania.

Se tivéssemos o número exato das pessoas que já morreram por causa das guerras que a humanidade já conheceu, ficaríamos surpreendidos com tanta sanguinidade, pelo que teríamos de alterar a designação de planeta azul para planeta vermelho ou, então, para planeta de ódio.

De todas as palavras ditas por historiadores e filósofos sobre a guerra barbárie é a que mais se aplica a esta absurda guerra que opõe a Ucrânia à Rússia, iniciada no nefasto dia 24 de fevereiro deste ano de total desgraça. Que começou e que parece não acabar nunca, numa medição de forças que se está a mundializar e a correr, sem qualquer ponto de retorno, para o nuclear.

As bombas lançadas sobre Hiroxima e Nagazaki, a seis e nove de agosto, de 1945, respetivamente, ainda são uma memória viva dos tempos de terror que não pode voltar a existir, tal como é impensável que volte a acontecer o tempo louco e desumano do Holocausto.

É absurda porque toda a destruição, presente nas imagens cruéis que diariamente observamos,  não tem razão de ser, significando a inutilidade do direito internacional, de que a ONU é a máxima expressão, bem como a conversão de pessoas indefesas em “carne para canhão”, isto é, para mísseis e drones potencialmente destruidores de casas, prédios, escolas, teatros, edifícios públicos, espaços comercias e centros estratégicos de energia.

A guerra é, também, estúpida, sobretudo para os que sonham com a construção quimérica de impérios, como se fosse possível voltar ao tempo do czarismo, no realismo – e na beleza literária – da “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói.

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