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10 de Outubro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Celebrou-se a 5 de outubro a revolução de 1910 que politicamente consagra a implantação da República, pondo fim a um regime monárquico de muitos séculos, desde o reconhecimento de Portugal como nação, na 1ª metade do século XII.

Pelo meio houve a revolução de 1383-1385, de grande significado para a continuidade do reino português, sempre em confronto com os que de Castela e de outros reinos aspiravam à sua conquista, fosse por armas ou através de casamento, aconteceu a recuperação da independência em 1640 (daí o feriado a  1 de dezembro) e ocorreu a revolução liberal de 1820, proclamada no Porto, a 24 de agosto e, passadas duas semanas, em Lisboa.

O regime republicano marcou de forma indelével a vida política courense, estando associada a figuras de renome como o Dr. Narciso Alves da Cunha, e os irmãos Nogueira, filhos do Visconde de Moselos.

Poder-se-ia acrescentar o Cónego Bernardo Chouzal, mas a sua relutância tardia em aceitar a República coloca-o do lado dos clérigos que mais sentiram o fim da monarquia e sobretudo a assunção de um Estado laico.

Quanto ao Abade de Padornelo, honra lhe seja feita, foi um crítico severo da monarquia, inscrevendo o seu nome nas primeiras linhas de um livro que registava os republicanos, mas esteve mais próximo do Cónego Bernardo Chouzal perante a publicação, em abril de 1911, da lei sobre a separação do Estado e das organizações religiosa.

Ainda antes de 1910, o Conselheiro Miguel Dantas, deputado e presidente da Câmara de Paredes de Coura, militou n0 Partido Regenerador e morreu com sangue monárquico a correr-lhe nas veias, influenciando de sobremaneira a posição de Narciso Alves da Cunha, amigo de Bernardino Machado, e por este indicado, decerto, para deputado às eleições Constituintes.

Ou seja, o autor da monografia No Alto Minho – Paredes de Coura, e de discursos parlamentares brilhantes, deitou-se monárquico e acordou republicano, sem que existisse qualquer contradição nas suas opções políticas ligadas à democracia.

No meu entendimento, Narciso Alves da Cunha aceitou muito antes as ideias republicanas, pondo-as em prática na autarquia, mas não assinou o livro dos republicanos por duas razões principais: era o presidente do município e quis honrar até ao fim o legado político que recebeu de Miguel Dantas. Os dois courenses tinham selado a sua amizade através da política, e sempre estiveram juntos.

Por isso, a proclamação da República representou para Narciso Alves da Cunha, por um lado, a possibilidade de libertar-se da monarquia e, por outro, o compromisso com as ideias republicanas, que Bernardino Machado representava com notoriedade.

Quer isto dizer que Narciso Alves da Cunha viveu politicamente em dois regimes políticos devido à amizade que manteve com Miguel Dantas e com Bernardino Machado?

 

 

 

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