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7 de Novembro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Cheguei ao Rio – e será sempre de Janeiro, porque navegadores aqui chegaram nesse mês – via Madrid (sendo óbvio que a TAP está a perder a olhos vistos para a Ibéria), num domingo de outubro.

Não fui para o hotel habitual, o antigo Debret, por não haver lugar, ficando a três centenas de metros, o que me fez sentir desenraizado do meu espaço de Copacabana.

No primeiro dia completo de Rio, em que escrevo esta crónica de vários dias, estou na avenida atlântica, depois de ter almoçado num dos lugares habituais, em Ipanema, numa das esquinas da praça General Osório.

Agora, estou novamente na avenida Atlântica. Caminhei muitos metros para aqui chegar. Pedi uma água mineral, que beberico, como se o tempo não passasse nunca, e observo o Pão de Açúcar, registado em furtivas fotografias, nas quais entram transeuntes, e pessoas dormindo no chão, embrulhadas numa puída manta de clima tropical.  Como estou num dos extremos, próximo do forte, Copacabana surge-me como uma concha protetora, que nos abriga nessa paisagem deslumbrantemente afetiva.

Estou no hotel, agora. Acordei cedíssimo, tomei o café da manhã e saí andando pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, para tomar o cafezinho no meu lugar preferido, como se ali saboreasse todos os dias o aroma desejado. Regressei ao trabalho através de uma reunião online, que decorreu em Lisboa, e vou-me preparando para o trabalho do dia seguinte.  N

Ao almoço, em Leblon, revi um dos meus grandes amigos do Brasil, que me ensinou a estar no Rio e nos seus noturnos botecos, feitos de cerveja, chorinho e samba. Senti, fragilmente, que a vida nem sempre é presente, evaporando-se devido aos mais complexos problemas, mas continuando a existir na argamassa de memórias de que é feito o passado.

Mais um dia, e este de trabalho intenso na Gávea, num dos campos académicos do Rio, onde o mundo gira e gira em ideias e projetos, e também por entre cafezinhos e pães de queijo.

Chegou o feriado de 2 de novembro. De muitas memórias reais, por mais longe que esteja de Portugal. A morte é esse silêncio que está sempre acordado dentro de nós. Os que conhecemos e já partiram voltam a viver, neste e em todos os dias que nos pertencem pela vivência quotidiana.

A cidade do Rio reconhece, neste dia de feriado, o seu permanente frenesim, estando Copacabana inundada de turistas, que nadam em cardume pelas avenidas e pelos hotéis.

Mas nas ruas interiores do bairro quase reina o silêncio. São muitas as pessoas que vivem na rua, como acontece em Lisboa, no largo do Martim Moniz ou na avenida Almirante Reis.

É a realidade que não deveria existir, no Brasil e em Portugal, ou em todos os lugares do mundo.

 

 

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