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4 de Junho de 2024 | Gorete Rodrigues
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Opinião

Não tenho situações de desagrado colonial em Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau e Timor-Leste. Pelo contrário, só tenho de dizer bem do modo como fui recebido, mesmo que o colonizador não seja meramente uma coisa passado.

Cabo Verde (falo das ilhas de Santiago e de S. Vicente) é um país bastante especial, mantendo fortes laços culturais, sobretudo na literatura e na música, com Portugal.

Andar a pé no centro da cidade da Praia é reviver ruas e largos com nomes atribuídos há muitos anos, e que a independência não anulou por completo.

Por sua vez, Guiné-Bissau mantém uma certa proximidade e também um certo distanciamento que fazem deste país um caso à parte, que não consegui compreender totalmente nas duas viagens que fiz.

Talvez, por isso, haja uma nostalgia de uma relação mais forte que demora a alicerçar-se no presente.

Em Angola, mais precisamente de Luanda, Benguela e Lobito, sinto que há uma amizade que perdura, existindo uma identidade angolana que dialoga com a identidade portuguesa, como se fôssemos da mesma família, que às vezes brigam por coisas menores.

Porém, a identidade de Portugal com Timor-Leste é de outra ordem.

Vivemos, em Portugal, as emoções de Santa Cruz, acompanhamos o referendo que aprovou a independência face à Indonésia, e estivemos presentes na construção desta nação.

Estar em Timor-Leste é como estar em casa, apesar de ficar nos confins da Ásia, muito perto por onde andou e morreu o Frei Redento da Cruz.

Apesar de o português ser língua oficial, juntamente com o Tétum (que começará a ser ensinado em universidades portuguesas), nas ruas dificilmente ouvimos aos locais uma palavra.

Há um enorme futuro com a escola portuguesa de Díli e com as escolas de referência, nas capitais dos distritos, onde estão professores portugueses a lecionar. Aí, sim, fala-se português, sendo formidável a capacidade que as crianças timorenses têm para a aprendizagem da nossa língua.

Mas é ao nível dos sentimentos aquilo que mais une portugueses e timorenses, não podendo ser colocada de lado a religiosidade, que é sentida e vivida de uma forma muito forte. Assistir a uma missa em Timor-Leste é uma daquelas situações que jamais se esquece. E os timorenses não se esquecem do apoio que receberam de Portugal, não tendo apagado os símbolos culturais, mormente monumentos deixados pelos portugueses em Díli e em Bacau.

É assim que se mantêm os laços culturais que tornam possível a reparação colonial. A lusofonia poderia ser uma comunidade mais coesa e com uma identidade mais possante se os países de língua oficial portuguesa estivessem mais ligados pela mobilidade recíproca. Mas a realidade não é essa. Há muitos obstáculos nesse processo.

A questão dos vistos é somente um exemplo do muito que poderia ser diferente.

 

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