Narciso Alves da Cunha – e nunca será maçador falar deste renomado courense – era um homem culto: com a instrução primária em Coura, estudou nos Arcos de Valdevez, terminou, em Braga, a formação liceal, no seminário diocesano, e o curso de teologia, tendo concluído, em Coimbra, o curso de bacharel em direito.
Por isso mesmo, leu muito, como se pode ver na sua escrita erudita, sobretudo na monografia que o consagrou (No Alto Minho-Paredes de Coura) e nas intervenções parlamentares, já editadas pela Câmara Municipal de Paredes de Coura.
Como sacerdote, advogado, juiz, presidente de câmara, deputado e senador fez muitas intervenções públicas, dedicando à palavra um amor que só foi ultrapassado pelo intenso amor que dedicou a Paredes de Coura, como o demonstrou em muitos dos seus textos.
Da sua biblioteca pessoal – infelizmente dispersa e parte dela perdida – constam Os Lusíadas, de Luís de Camões, mais concretamente a edição de 1759, impressa em Paris, e que contém, na parte inicial três esclarecimentos: informação ao leitor, resenha biográfica da vida de Luis de Camões e particularidades das Lusíadas.
O livro está assinado duas vezes por Narciso Alves da Cunha, reconhecend0-se facilmente a sua letra inconfundível, personalizada, afirmativa.
Do livro não constam anotações algumas, nem tão pouco qualquer sublinhado pessoal, o que seria de extrema importância para se compreender o modo como a leitura foi realizada, sendo certo que foi um livro a que Narciso Alves da Cunha dedicou muitas horas do seu estudo, incluindo as estrofes do Canto IX.
Apesar de serem a epopeia da Pátria e de personificarem como herói Vasco da Gama, Os Lusíadas não esquecem os marinheiros, os soldados e tudo quanto dizia respeito à vida dos comuns mortais, pois é na Pátria Portuguesa que se constroem as naus, se forjam as armas e nascem as pessoas que navegam por mares nunca dantes navegados.
Como em Eneida, de Virgílio, que serviu de inspiração a Camões, o herói é épico nas suas façanhas. Contudo, é um herói mais humano, mesmo que abençoado pelos deuses da mitologia clássica, revelando os seus medos e as suas dúvidas, pois a façanha de Vasco da Gama nãos seria possível sem a coragem e sem determinação dos seus marinheiros, que enfrentavam conhecidos perigos e situações muito diversas.