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28 de Abril de 2020 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Vive-se o momento.

Mas não dá para ser imediatista, vivendo um dia de cada vez, como se a vida fosse um barco sem remos, perdido no mar agitado por ondas impiedosas.

É aceitável o lema que muitos seguem, na convicção de que o futuro não existe, porque o futuro é sempre o presente, que se vive, diariamente, num ritmo de vida que não tem guiões, nem planos, apenas o que se sente, respira e se olha, uma vez que o depois é agora – e o agora é um passado, que apenas existe como memórias.

Porém, é nestes dias tristes, desalmados, decididos pelos não-humanos, na figura de um vírus, que saltita de mãos em mãos, de gotículas de saliva em gotículas de saliva, de espirros em espirros, que mais olhamos para o futuro, na esperança de que tudo volte, e rapidamente, à normalidade.

Essa normalidade, contudo, não voltará tão cedo, pelo menos até sermos todos vacinados, milagrosamente, pela ciência, na qual acreditamos peregrinamente, tal como confiamos na tecnologia e nas pessoas, que comandam um avião a doze mil metros de altitude e a quase mil quilómetros à hora.

Sim, temos de confiar.

E temos também de nos encharcar de esperança, olhando mais para o dia de amanhã que para o dia de hoje, ou para o dia que foi ontem, ou para o que foi anteontem, porque a humanidade já conheceu situações bem piores, quer na forma de guerras, que não acabam nunca, quer através de pandemias, bem piores do que esta.

Nesses tempos, o desconhecimento e a falta de higiene pessoal e pública condenaram um número incalculável de pessoas à morte.

Todavia, o mundo desigual que ainda existe, em que tantas e tantas pessoas vivem deploravelmente na pobreza, contrariamente aos seus governantes, que se banqueteiam de absurdas riquezas, é um tristíssimo problema, sendo terra arada para que o vírus possa estupidamente crescer, como joio numa seara de trigo.

Mas nestes dias e meses de 2020, tudo é diferente.

Sabe-se a origem das coisas (sem conspirações de distração para justificar populismos alimentados pela ignorância), sabe-se o caminho a seguir e sabe-se como viajar de forma segura.

Por mais perigoso que seja nessa viagem louca à volta do mundo, o vírus é bem conhecido e a ciência tem as respostas necessárias para que a vida volte à normalidade, para que nos deixe pensar que vale a pena viver o momento, dia após dia, sem termos de pensar no futuro.

 

P.S. Escrevo num dia de liberdade, de um passado feito de futuro, em que a revolução fez nascer cravos vermelhos dentro das armas que matavam a esperança.

 

 

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