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12 de Maio de 2020 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Muitos são os textos publicados ou as notícias divulgadas sobre as consequências da atual pandemia em todos os níveis da sociedade.

Umas, pessimistas ou otimistas, outras categóricas ou improcedentes. Não vale a pena sermos otimistas irritantes, embora noutros momentos seja uma boa receita para muitos problemas.

De facto, tudo fica de pernas para o ar. É incontestável.  Se o distanciamento social e o confinamento em casa durassem dois meses e se depois tudo regressasse ao normal, aguentaríamos facilmente a situação. Mas não. É um assunto complicado. Temos de aguardar com paciência e sabedoria. Com muita responsabilidade, porque a infeção está ao virar da esquina.

Tudo mudou, é certo. Até o modo de vivermos, pelo menos enquanto não houver um medicamento adequado ou uma vacina preventiva. Faltam os abraços, os sorrisos e os afetos. Falta esse calor humano que é a energia da vida. Falta a comunhão familiar presencial. Falta o nosso dia normal de comuns mortais.

Parece que nos inventámos noutras personagens, com mil cuidados em cima de nós e ainda com mil incertezas à nossa frente.

Há quem diga que apenas mudamos enquanto durar a pandemia, voltando com o tempo a normalidade que até aí existia.

Não, isso não vai acontecer.

Enquanto pessoas, estamos a mudar, sem dúvida alguma.

Temos uma outra consciência do mundo, dos seus perigos, dos seus limites e dos seus exageros. Temos também uma outra perspetiva sobre nós e sobre os outros, fortalecendo a ligação que nos faz membros de várias comunidades (religiosa, social, política, familiar, clubística, etc.).

Gostaria que mudássemos, no sentido de termos uma sociedade mais solidária e mais igual.

É triste olhar para a realidade social deste mundo, como se as pessoas fossem coisas, objectos e números.

Não, não o são.

Elas têm nome. Dormem, acordam, respiram e sonham como as outras pessoas. Mas diariamente são impedidas de viver com a mínima dignidade humana.

Gostaria ainda que a proximidade fosse mais real. O exemplo de amor ao próximo é o do bom samaritano. Aquele que estende a mão à pessoa maltratada que está no chão, mas que recebe uma mão amiga para se levantar e caminhar.

 

Não excluindo esta passagem bem conhecida, refiro-me ao modo de estarmos dentro das nossas comunidades. Por um lado, pensamos que são as únicas e as melhores, por outro, temos a tendência para as desconsiderar. Porém, não sendo únicas, são as nossas comunidades, aquelas a quem dedicamos o nosso modo de ser.

Com esta crise fico com um olhar mais local, para o lugar e para os seus espaços particulares, apenas reconhecidos pelos seus pormenores.

Gosto e gostarei mais de Santa e das suas magias de infância, gosto e gostarei mais de Coura, na sua afetividade única, gosto e gostarei mais do bairro citadino, das suas lojas, dos seus cafés, das suas gentes e das suas festividades.

Todas as páginas do último número do Notícias de Coura já expressam algumas destas ideias. Mas seja-me permitido, caro leitor, não destacar qualquer página ou qualquer pessoa, pois a solidariedade e a dádiva são atos e palavras abundantes que enchem o coração bom deste magnífico jornal.

 

 

 

 

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