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29 de Junho de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

A luta foi violenta e persistente ao longo de um ano, em que os da Guarda Velha, fiéis ao “primeiro vulto político do distrito, o sr. conselheiro Miguel Dantas,” “ilustre deputado e figura proeminente da política portuguesa há muitos anos”, “benemérito e honrado filho desta terra”, desancaram os da Guarda Nova, alinhados com João Franco e seus correligionários políticos.

Miguel Dantas foi responsável pela “gerência dos negócios municipais” de Paredes de Coura de 1882 a 1895, sendo neste último ano em que se verificou uma cisão no Partido Regenerador, alimentada pela intriga política das últimas décadas do regime monárquico. O JORNAL DE COURA dividiu-se em dois, de um lado, Casimiro Rodrigues de Sá, do outro, Bernardo Chouzal, bem apoiados quer por Miguel Dantas e Tomás Alves, quer por António Cândido Nogueira, escolhido para o cargo de presidente da Câmara Municipal.

A questão foi quase estritamente política, diga-se, de verdade, na medida em que, seguindo-se a argumentação dos partidários de Miguel Dantas, tudo se deveu a “graves desinteligências, filhas da intriga propositada,” em que foram proferidas “algumas violentas agressões pessoais ao sr. conselheiro Miguel Dantas.”

Para os da Guarda Velha tudo se resumia a uma questão de lealdade política, reconhecendo o ex-presidente da Câmara Municipal e também aqueles que, em 1878, inauguraram e organizaram “a política regeneradora neste concelho,” mantendo-se fiéis ao “chefe”, porque “não há obra pública, não há melhoramento, não há benefícios a que não estejam indelevelmente vinculados o prestígio e a dedicação de Miguel Dantas.”

E mais: “o nosso chefe tem uma folha de serviços tão brilhante e luminosa que nos deslumbra e cega; e é por isso que que arremeteis contra ele,” ou contra as estradas cortadas, as escolas abertas, os edifícios públicos construídos, a nova vila surgida, ou contra as influências politicas que ele tem a nível nacional, inclusive junto do rei, e que tanto serviram os interesses de Coura.

“Porque vos revoltais contra ele? – pergunta Casimiro Rodrigues de Sá – com esse insólito e antipático procedimento?”

E quem se revoltava era a nova vereação maioritária adversa a Migue Dantas, que, juntamente com outros políticos e membros do jornal falso, de entre os quais, Bernardo Chouzal, passaram a fazer parte da “Corja e do Bando” (“denominamos assim o grupo invisível dos baixos guerrilheiros que há tempo se destacam do partido regenerador deste concelho”).

Tal argumentação consta dos números 15 e 16 do JORNA DE COURA, publicados a 8 e 16 de março de 1896, mantendo-se as referências ao dito grupo nos números 28, 30, 36 e 36, grupo esse que abrigou “forças opostas, adversários políticos e rancorosas inimizades pessoais” e trouxe “a guerra mesquinha e a desordem pública,” voltando “o caos a esta terra.”
De que lado estava Narciso Alves da Cunha?

Obviamente que lado ao lado de Miguel Dantas, proferindo, por esses tempos, sermões nas festas religiosas tanto do concelho de Coura, quanto de concelhos vizinhos, sendo a política algo que poderia esperar, pois o “Chefe” ainda tinha muita energia política.

 

 

 

 

 

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