Para terminar “a luta política travada neste concelho”, nos idos anos de 1896, olhemos agora para os pontos de vista daqueles que pertenceram à “Guarda Nova”, fiéis seguidores dos “Drs. Nogueiras” e ferozes opositores a Miguel Dantas.
Dos 19 números do “Jornal de Coura” existentes no Arquivo Municipal – e que a Drª. Fátima Cabodeira tem gerido sabiamente – apenas li, para esta crónica, os números 17, 18 e 19, sob a chefia de Sousa Lobo (proprietário) e dos “redatores políticos Padre Manuel Joaquim de Figueiredo e Bernardo Chouzal”.
Tratou-se, de facto, de uma tripla luta: a política, em que a figura a abater era a de Miguel Dantas; a económica, que passava pela propriedade do “Jornal de Coura”; a religiosa, colocando frente a frente os padres Casimiro Rodrigues de Sá e Bernardo Chouzal. Porém, esta última apenas se visualiza nas entrelinhas, já que ambos assumiram o papel de “políticos-gramaticais”, sendo responsáveis pelos virulentos e nada simpáticos textos publicados em prol das duas fações políticas.
No número 19, de 5 de abril, pelo período da Páscoa, o jornal da “Guarda Nova” declarou tréguas, desejando, inclusive, votos de boas festas aos seus adversários, já que nos dois números anteriores todas as palavras escritas foram contra Miguel Dantas e algumas para desancar em Casimiro Rodrigues de Sá.
De que foi acusado Miguel Dantas?
De muita coisa, desde questões políticas a aspetos mais pessoais.
Politicamente, foi acusado de ter criado, no concelho de Coura, “o regime de terror, beneficiando correligionários políticos e assumindo-se como senhor de tudo (“Mas s. ex.ª é comendador, é do concelho de S. Majestade, deputado, presidente da Câmara, provedor da Misericórdia, 1º substituto do juiz de Direito, Governador Civil de Caminha e Coura, e tem sido rei absoluto, senhor despótico e dominador autocrata do concelho, importante na política, íntimo dos ministros”).
Tendo sido um destacado político, há melhorias que atribuídas a Miguel Dantas para seu proveito pessoal, como é o caso de duas estradas: “Mas s. ex.ª tem uma estrada pela porta do seu palacete quando a primitiva diretriz – estudada em tempos dos Progressistas – a afastou de lá;” a construção de uma variante na estrada de S. Bento “depois que s. Ex.ª comprou a Quinta do Amparo, em Romarigães.”
Pessoalmente, “esbofeteou publicamente, em pleno mercado, um inofensivo e pacato lavrador de Padornelo,” transformou-se no “senhor transferências,” ao nível de cargos públicos; e promoveu “intrigas habilmente forjadas.”
Os adversários de Miguel Dantas jogaram tudo na figura do lavrador de Coura, transformando-o em vítima – certamente das suas políticas camarárias em tempos de carestia de milho, mesmo que ele tivesse custeado do seu próprio bolso um valor considerável para a compra de milho e sua distribuição aos lavradores mais carenciados.
E se Miguel Dantas “sacrificou na política uma parte da sua fortuna, estamos-lhe pagando os juros no leite que lhe vendemos para a fábrica de manteiga – que se é um melhoramento para este concelho não o é menor para a sua bolsa.”
Talvez voltemos a estas disputas, embora a linguagem dos “novos” seja violenta e sem direito a contraditório, o que nos obriga a ler o referido jornal como uma luta política passageira, e mais ditada pela guerrilha nacional do que pela discussão de ideias políticas no concelho de Coura.