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21 de Dezembro de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Lendo “Os livros Sapienciais,” um dos livros da Bíblia, tal como tem sido traduzida a partir da versão em grego, pelo renomado académico Frederico Lourenço, no Volume IV, Tomo 2, “Salmos de Salamão”, deparamo-nos com esta natural e curiosa pergunta:

“E qual é o tempo de vida de um ser humano na terra?”

A resposta circunscreve-se a poucas palavras, por mais complexa que seja a temática:

“Segundo o seu tempo e a sua esperança n’Ele.”

Pois é, vivemos num tempo delimitado entre a vida e a morte, embora esta seja um ponto de passagem, como pêndulo baloiçando entre dois pontos intangíveis, já que, na condição de ser humanos, somos feitos de uma circunstância existencial, prolongada ou não conforme a crença que tivermos em Deus. Num Deus que existe em muitos deuses, porque a noção do divino não corresponde somente a uma dada confissão religiosa.

Se analisarmos melhor a resposta à tal pergunta, e para a qual gostaríamos de ter dados mais concretos, encontramos, de facto, duas realidades diferentes.

Por um lado, viveremos o tempo terreno, que é finito, breve, temporal, dependente da evolução genética que a espécie humana transporta consigo, numa sucessão de gerações, não muitas ainda, se olharmos para o percurso da humanidade; por outro, viveremos o tempo divino, que é uma eternidade de eternidades, uma frase bíblica de constante referência, como se fosse infindável, caso tenhamos a esperança de acreditar no reino dos céus.

E é nesta possível dualidade de tempos, já que a esperança em Deus é permanente e não nasce depois da morte, que vivemos terrena e divinamente, uns mais descrentes, outros mais esperançados, como se entendêssemos que, enquanto vivermos, temos sempre a hipótese de nos interrogarmos que tempo é esse que nasce com a morte e perdura pelo infinito, na forma de espírito.

Se, quanto à duração do tempo terreno, a resposta é dada pelos registos de nascimento e de óbito de uma dada pessoa, que estabelecem uma fronteira entre duas datas, cada vez mais pormenorizadas – minuto, hora, dia, mês, ano –, já a resposta, relativamente ao tempo divino, só é possível na fé individual, sendo de citar a frase bíblica “Felizes os que creem sem terem visto!”

Cada pessoa, seja pela palavra, seja pelo testemunho, seja, ainda, pela crença, cria a sua própria dimensão do tempo divino, enquanto percorre um determinado tempo terreno, pois a dúvida humana estará sempre dependente da tal palavra “esperança”, vivida e sentida de forma tão diferente.

 

 

 

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