“Vou ali e já venho.”
Quer dizer que não demorará muito naquilo que tem a fazer, mais ainda quando é uma pessoa ocupada nos seus afazeres de escrita, aprendida nos cadernos escolares da capital, para onde migrou ainda bebé, e que mais tarde projetaria em páginas de jornais e pelas redes sociais.
Tudo bem, já sabemos o que o Manuel Tinoco foi buscar para nos dar, de mãos abertas e felizes: um livro.
Um livro seu, de muitas escritas em torno de estórias suas, acontecidas e vividas na linha geográfica entre Rubiães e Lisboa, com amigos muitos, de fortes cumplicidades, e cheias de Coura, tão ou mais cheias do que o rio Coura, correndo bem gordinho em tempos de prolongada invernia.
Os livros intimistas não são para serem esquecidos, nunca. E Manuel Tinoco revela-se de um modo surpreendente nas estórias que conta de viva alma, rasgada até ao limite dos verbos, dos substantivos e dos adjetivos que a tornam prementemente humana, em construções frásicas que criam imagens inolvidáveis de si e de todos os seus, não se desenraizando de Coura, que sempre lhe alimentou essa vontade de incansável narrador.
Por isso mesmo, “Vou ali e já venho,” é um livro autobiográfico, em que o autor se desamarra e solta palavras que o vento, inquieto e fugidio, reúne em frases que criam estórias que precisam de ser contadas, porque de muitas estórias somos feitos, quer se queira ou não, destapando imagens que são o selo da sua inteira autenticidade.
Mais do que factos, localizáveis em diferentes tempos e em vários espaços, a autobiografia, que agora podemos ler com calma, sem pressa, sem ordem alguma de páginas, está carregada de pensamentos sobre o que é a vida, as personagens que conhecemos, as vivências que experienciamos. Melhor dizendo: modos de olhar – filosófica e antropologicamente – para o curso das coisas, descobrindo-lhes ínfimas situações que as engrandecem ainda mais.
Manuel Tinoco, o escriba-mor deste jornal, revela-se neste livro o narrador de si mesmo, despojado das notícias factuais, fabricante de textos soltos que se cruzam pela força das estórias, reinventadas e reimaginadas por uma escrita subjetiva, humanizada e pública.
Como diz o autor, são “prosas de peito feito,” bem como “crónicas do tempo de crescer” que encontramos neste livro de muitas vivências, em que cada texto não é senão o sentido de outros textos, todos tecidos pelo mais sensível olhar que pode existir quando, verdadeiramente, o real é capturado pela singularidade do autor, como algo que não pode ser ignorado num ferrugento e apodrecido baú, mas amplamente divulgado, de modo que as estórias sejam sempre lembradas.
Sim, Manuel Tinoco, vá lá e traga-nos mais de si e dos seus tempos e dos seus mundos.