Se, agora, fosse aluno do ensino básico e não da escola primária, como fui décadas atrás, na escola transformada em biblioteca, com o nome de Aquilino Ribeiro, tudo seria diferente.
Não duvido disso.
E cada um pode também trazer para esta leitura a sua escola, sem saudosismos, porque o tempo da educação não olha para trás, estando virado para o futuro.
Para além de transportes, cantina e lanches, não teria aulas num único turno, frequentando a escola a tempo inteiro, com inúmeras atividades extracurriculares e não teria, acima de tudo, aulas tristes ditadas pelo quadro negro, sentado numa carteira individual, com tinteiro e caneta de aparo, sujando mais do escrevendo.
Pelo contrário, teria uma sala acolhedora, cheia de ritmo, de folhas coloridas, de recursos e materiais digitais. Teria o canto da Matemática, com muitos jogos didáticos para aprender de forma diferente, o canto do Português com muitas histórias para ler e imaginar e ainda o canto do Estudo do Meio, com muitos projetos ligados à Natureza.
Aprenderia o que aprendi, certamente, sem ser à bruta e através de metodologias ativas que apelam à curiosidade do aluno, num clima de grande afetividade.
Não me limitaria a fazer redações, ditados e equações, mas haveria espaço para outras atividades muito mais enriquecedoras e cheias de mundo, não se esgotando no mapa de Portugal e das suas colónias, sob o olhar omnipresente da religião, representada no crucifixo, e da política, presente no retrato do ditador.
Frequentaria, ainda, uma escola mais lúdica, tanto no recreio, no qual os alunos estavam entregues a si mesmo, quanto na sala de aula, só masculina ou feminina.
Teria, também, uma casa de banho com as devidas condições sanitárias e não manteria, na minha memória, essa horrível imagem de uma casota com duas portas vermelhas.
São duas escolas diferentes, é certo, como diferentes são os modos de olhar para a educação das crianças, em que o aprender não tem de ser uma atividade de pesadelos, de castigos e de negações.
Se fosse aluno desta nova escola, seria mais feliz?
Duvido, pois a felicidade não se mede, sente-se e vive-se. E eu vivi a minha, profundamente.
Apesar de todas as diferenças entre a escola do passado e a do presente, nada supera a felicidade de ter sido criança e de ter tido a oportunidade de crescer para a vida, malgrado todas as limitações sociais e pedagógicas de uma época.
A diferença está, assim, na forma como valorizámos o que tivemos, enquanto possibilidades reais, num Portugal dominado por uma escola primária de sucesso apenas para alguns, bem longe da atual escola do básico, que tem o selo social da inclusão e da diversidade pedagógica.