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27 de Junho de 2022 | José Augusto Pacheco
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Opinião

A história atribulada de uma família indiana, ao longo de três gerações, marcada pelas suas dificuldades numa sociedade terrivelmente desigual, dá corpo ao romance “O Deus das Pequenas Coisas”, escrito por Arundhati Roy e publicado em 1997.

De facto, a desigualdade tem sido uma constante na sociedade, em geral, sentida e vivida por sucessivas gerações, por mais desenvolvidas que sejam as condições de vida das pessoas.

Se tudo começou igual, porque todos somos descendentes de povos recolectores, que tinham a natureza como riqueza essencial, hoje em dia, existem diferenças abismais, como se a pobreza fosse algo de inevitável.

A pandemia de Covid-19 contribuiu para cavar ainda mais o fosso que separa as pessoas, pois isolou os mais frágeis, deixando-os entregues ao vírus da indiferença. E isto aconteceu a nível mundial, privando muitas pessoas de uma vivência digna e humana. Bem se poderia chamar a esta pandemia o vírus da desigualdade, por mais medidas atenuantes que tenham sido adotadas, pela maioria dos países.

Também a guerra tem sido um fator de criação de desigualdade. A geração dos nossos avós e pais soube bem o que foi viver num tempo de racionamento de alimentos, como aquele que se verificou na II Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Antes disso, os courenses já tinham ouvido o troar dos canhões durante a Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939.

Mais recentemente, a nossa geração conheceu as distantes guerras do Golfo (1990-1991), da Síria, iniciada em 2011, bem como os conflitos em África, em alguns dos quais Portugal foi ator principal, e o prolongado conflito motivado pela ocupação abusiva da Palestina por parte de Israel.

Os 24 anos de ocupação de Timor-Leste pela Indonésia foram vividos de forma emotiva, fazendo parte do nosso mapa de guerras e conflitos.

A partir de fevereiro de 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia, contra todos os princípios do direito internacional, instalou-se no nosso dia a dia. As imagens cruéis relativas à morte de homens, mulheres e crianças e à destruição de casas e edifícios púbicos não deixam de nos atormentar.

A guerra tornou-se num espetáculo televisivo, trazendo para a ribalta a desumanidade e a barbárie. Aliás, como disse Adorno, um dos maiores pensadores do século XX e que viveu a perseguição nazi na II Guerra Mundial, evitar a barbárie seria tudo o que a sociedade deveria fazer. Referia-se, em concreto, ao Holocausto e às bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

 

P.S. O Notícias de Coura completa, com esta edição, os seus jovens e prometedores 19 anos. Num tempo dominado pela frieza da desigualdade e da guerra, este jornal tem sabido manter-se próximo das pessoas, promovendo o concelho e afirmando-se como uma voz plural, democrática e equitativa.

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