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19 de Julho de 2022 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Nestes dias de seca severa e de uma onde de calor prolongada, com temperaturas acima dos 40 graus, revela-se o que muitos querem negar: alterações climáticas originadas pela ação humana, sobretudo pela utilização exagerada dos combustíveis fósseis, incluindo o carvão, o petróleo e o gás natural, embora este último, juntamente com a energia nuclear, tenha sido classificado, há bem pouco tempo, pela União Europeia, como atividade sustentável ou energia limpa.

No dizer do deputado Tiago Brandão Rodrigues, em artigo publicado no PÚBLICO, a 6 de julho de 2022, assinado também por João Matos Fernandes, trata-se de uma decisão que é uma “vergonha climática,” sendo um sinal errado e um passo em frente no caminho do abismo.

E esse abismo aqui está, nestes dias em que o ar se torna irrespirável, o céu se pinta de cinzas angustiantes e o nosso olhar se enche de ígneos receios.

O forte sol que se faz sentir, durante consecutivos dias, como se as noites de brisas não existissem, a ausência de humidade que persiste, bem como o horizonte refletindo fumos de muitos incêndios são sinais preocupantes, de consequências imprevisíveis.

São os incêndios de verão, dirão os mais otimistas, acompanhados de palavras bíblicas reconfortantes das sete vacas gordas e das sete vacas magras, como se abundância não existisse sem a carestia, ou se a seca não existisse sem a chuva.

São, ainda, os descuidos das pessoas, os crimes dos pirómanos ou quejandos, que gostam da desgraça alheia, e o infortúnio de quem vive em territórios erradamente desordenados.

Olhando-se para as imagens dos incêndios, que fazem o dia a dia das televisões, que vivem, cada vez mais, das emoções das pessoas – assim foi com a pandemia e com a invasão da Ucrânia pela Rússia –, parece que estamos quase a implodir, como se o amanhã não existisse.

A dura realidade das coisas que vivemos por estes dias não está nos incêndios, por mais que criem dificuldades e alterem a vida de muitas pessoas, mas nas alterações climáticas, que não queremos ver que, de facto, existem, e cujo impacto será ainda mais devastador, à medida que fazemos do planeta Terra um local de risco permanente.

Se é verdade que em tempo de guerra não se limpam armas, também deveria ser aceite que, face aos sinais claros das alterações climáticas, como demonstram estes dias secos e quentes, e cuja ocorrência aumentará progressivamente nos próximos anos, os decisores políticos não deveriam voltar atrás, “limpando” certas energias que, tão nefastamente, contribuem para essas mesmas alterações.

O fogo não tem olhos, a água não tem cornos, assim me disse há dias Vítor Paulo Pereira, pelo que as alterações climáticas não se combatem com decisões erráticas, dando-se o dito por não dito, isto é, não cumprindo o prometido quanto às metas de descarbonização.

 

 

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