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“Rebéubéu pardais ao ninho”

25 de Janeiro de 2022 | Gorete Rodrigues
“Rebéubéu pardais ao ninho”
Opinião

“Cerca de um terço das emissões mundiais de gases com efeito de estufa provêm dos sistemas alimentares, pelo que a agricultura é um dos principais factores que contribui para a perda de biodiversidade”. Esta, caro leitor, é a frase que inicia o parágrafo do PAN (Pessoas-Animais-Natureza) no seu programa eleitoral para a Agricultura. Uma área de imensa importância para o mundo, para Portugal, e para os portugueses. Sim, porque esta mensagem nos afecta directamente, a nós, portugueses, apesar de só se dirigir ao eleitorado do PAN. Parecem querer acabar com a pecuária, com a agricultura produtiva, aquela que permite que o ordenado de uma grande maioria possa pagar esses produtos, agrícolas e animais, que não são de todo não essenciais. Talvez estes candidatos vivam noutra realidade. Recordemos, caros letrados, que a agricultura existe para alimentar todos, incluindo os candidatos e o eleitorado do PAN. E que esta contribui de forma directa na retenção desses malditos gases. Sem esquecer, ex.mos candidatos, que somos muitos, os agricultores e famílias que vivem totalmente ou em parte desta actividade. E uma grande parte já produz de forma tradicional, mas, com animais bem tratados. E que conhecemos muito melhor a nossa realidade e a nossa responsabilidade perante as questões do ambiente. Podemos, caros candidatos a deputados letrados, vestir vestes mais cómodas e apresentá-las mais sujas tendo em conta a nossa actividade, mas isso não quer dizer que não estejamos informados. Porque esta, para quem não sabe, ou não quer saber, é uma actividade soberbamente legislada, recheada de obrigações para as questões ambientais e para o bem-estar animal. E, em boa verdade, a maioria de nós, agricultores, esforça-se para cumprir com todas essas obrigações. Talvez por isso, caro candidato do PAN, Portugal esteja a cumprir com as metas estabelecidas no Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 2020/2030) e no Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030).
Ao reler a primeira frase do parágrafo anterior, fico confusa sobre a mensagem que esta pretende transmitir. Atrevo-me a dizer que ela não faz qualquer sentido porque a primeira afirmação, a meu ver, não confirma a segunda, como eles pretendem transmitir, principalmente em Portugal. E nem o contrário. E, para meu espanto, tendo em conta que estes se consideram mais evoluídos e mais estudiosos, é notória a indiferença deles perante o esforço que os agricultores fazem, todos os dias, para cumprir com tudo o que lhes é exigido em relação às boas práticas ambientais e o bem-estar animal. Acrescento, caro leitor, porque trabalho para eles, com eles e como eles, garanto-lhe que os agricultores portugueses fazem muito mais pelo ambiente do que estes políticos de favas contadas ou de pardais ao ninho. Porque falarem, até falam bastante ou demais.
Eu tenho imensas dúvidas sobre este grupo, que se diz político, e mais evoluídos que os restantes. Mas uma certeza eu tenho, a mensagem deles dirige-se exclusivamente à fatia do eleitorado que consideram deles. O resto do eleitorado é simplesmente esquecido. E são estes, ilustres ou ignotos, candidatos ao hemiciclo de Portugal.
Não parecem querer saber de Portugal, dos portugueses e sobretudo dos agricultores e da agricultura nacional. A frase que abriu esta crónica fala de uma responsabilidade e realidade mundial para a qual todos os países, ao nível mundial, têm corresponsabilidades. Será que estes conhecem mesmo o conteúdo do Relatório do Estado do Ambiente (REA) apresentado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em 2021? Porque seria de esperar que para defender as causas que apresentam nestas eleições nacionais, e não mundiais, os mesmos estudassem os dados que este relatório apresenta. Caso contrário, questiono-me sobre qual o propósito destes ditos defensores? Estarão estes a candidatar-se para serem deputados em Portugal? Ou o propósito deles é a nível mundial. Sim, porque voltando à ‘mal dita’ frase, esta aponta para as emissões mundiais de gases com efeito de estufa. Repito, mundiais, e não nacionais. E, para terminar, saberão eles qual é o peso da agricultura para as emissões nacionais desses mesmos gases? Não, não são os tais 30%. Segundo o REA a percentagem atribuída à agricultura na emissão de gases com efeito de estufa é de 10,8%. E esse relatório, caro leitor, evidencia o esforço de todos os sectores, incluindo a agricultura, para cumprir com as metas estabelecidas pelo PNEC 2030. Pois é, caros candidatos a deputados, a taxa, ou partilha de esforço que cabia a Portugal está no caminho certo. E não, não graças a vocês, mas em parte graças aos agricultores portugueses.
Se nós, portugueses incluídos os agricultores, estamos a cumprir com a parte que nos cabe para diminuir o nosso impacto nessa balança mundial a favor do ambiente, então, que o resto do mundo, faça a sua parte. E caso o PAN queira dar uma ajudinha para que estes outros países cumprem com essa parte que lhes compete, que nos façam o favor de viajarem até lá. E deixem os agricultores portugueses produzirem, para alimentar não só a fatia do seu eleitorado, mas sim todos os portugueses, incluindo nativos e migrantes.
Porque o meu voto nem será vosso, nem de quem vos der importância. Porque sou portuguesa de nacionalidade e defensora da agricultura e dos agricultores, onde me incluo com muito orgulho.
E “rebéubéu pardais ao ninho”!

 

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