A Criança e a Diabetes
Foi em 1500 anos AC que Ebers Papyrus efectuou as primeiras descrições acerca do que seria a diabetes. Com todo o desenvolvimento, em 1921, Banting e Best obtêm e purificam as células pancreáticas estudadas por Langerhans retiradas do pâncreas de um animal, injectam-lhes o material (insulina) no animal diabético, e descobrem a falha no nível de açúcar no sangue. A diabetes é uma doença crónica de natureza metabólica, caracterizada por uma elevação anormal do nível de glicose no sangue – hiperglicemia –, que pode resultar numa elevada excreção de açúcar na urina – glicosúria. É através deste fenómeno que a diabetes adquiriu o nome científico: diabetes mellitus, que significa literalmente “doce que passa através de”, referindo-se ao elevado conteúdo de glicose na urina.
As crianças devem estar familiarizadas com a maioria dos órgãos internos, o aparelho digestivo e com o funcionamento do pâncreas. Além disso, devem saber igualmente quais os alimentos que podem ingerir e como viver a sua vida o mais normal possível conjuntamente com os seus amigos e colegas. Aqui é fulcral a presença constante dos adultos que os rodeiam, no entanto, esses adultos têm de estar munidos de informação.
Existem dois tipos de diabetes (Seabra, 1997): Tipo I ou insulinodependente, originados por uma destruição das células “beta” pancreáticas; Tipo II ou não insulinodependente, cuja causa é a combinação de uma acção menos eficaz da insulina (resistência à insulina) com uma produção insuficiente da mesma. A diabetes nas crianças e jovens é do primeiro tipo, ou seja, insulinodependente (DID), sendo o seu início geralmente entre os 5-6 anos e entre os 10-12 anos (Cox e Gonder-Frederik, 1992).
Os principais sintomas que caracterizam o aparecimento deste tipo de diabetes são: polidipsia (sede), polifagia (fome), xerostomia (sensação de boca seca), fadiga, prurido (comichão no corpo, sobretudo ao nível dos órgãos genitais), visão turva, dores de cabeça, náuseas e vómitos (numa fase mais avançada da doença) e poliúria (eliminação exagerada de urina).
Sendo a diabetes uma doença crónica, esta pode ser compreendida como um acontecimento de vida stressante ou perturbador que interage com uma pluralidade de ocorrências e condições de desenvolvimento (Barros, 1999). Neste sentido, a diabetes altera a vivência directa da criança de duas formas diferentes. Por um lado, expõe-na a experiências aversivas (por exemplo, comunicação do diagnóstico, realização de exames, cumprimento dos tratamentos) e, por outro lado, impede-lhe ou limita-lhe a vivência de experiências de vida normativas, desejáveis e facilitadoras do desenvolvimento (por exemplo, dormir em casa dos amigos) (Goodyer, 1990, cit. in Barros, 1999). Convém, no entanto, salientar que algumas destas limitações sociais podem não advir propriamente da doença, mas sim das atitudes dos pais em relação às crianças, manifestando um excesso de zelo e protecção.
O diagnóstico da diabetes implica uma adaptação por parte dos familiares e da própria criança, sendo este um processo contínuo e dinâmico, com fases que oscilam entre o equilíbrio e aceitação, e a ansiedade, revolta ou depressão. Todo este processo é variável de indivíduo para indivíduo, influindo factores como as características da doença, da criança, da família e de outros elementos do meio.
Relativamente às características da doença verifica-se que existem alguns aspectos fulcrais que dificultam a sua adaptação. Destes destacam-se a gravidade, o curso imprevisível da diabetes, a utilização de métodos aversivos e complexos de tratamento, e as alterações no estilo de vida.
A idade e desenvolvimento cognitivo e social – características da criança – também são aspectos decisivos, uma vez que determinam a forma como a criança é capaz de interpretar, compreender e construir significações sobre a doença e o tratamento no seu contexto de vida (Barros, 1999). A capacidade para estabelecer relações sociais, bem como para resolver problemas, são características individuais que facilitam a adaptação. Uma criança é tanto mais capaz de lidar adequadamente com a doença, quanto maior for a sua capacidade de confrontar situações stressantes ou difíceis.
Relativamente às características da família é de salientar que esta tanto pode funcionar como um facilitador como, pelo contrário, constituir um grande obstáculo ao processo de adaptação à diabetes. Actualmente, é reconhecido pela maioria dos autores que os pais ocupam um papel privilegiado no desenvolvimento das atitudes e crenças sobre a saúde e a doença (Gochman, 1985, cit. in Barros, 1999).