RESENDE. JORGE, PRIMEIRO PORTUGUÊS NAS OLIMPÍADAS MUNDIAIS DAS PROFISSÕES

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Há alguns meses ouvi a apresentadora Fátima Lopes, num programa chamado “Mudar para Melhor” em parceria com o IEFP – Instituto de Emprego e Formação Profissional, falar sobre o Campeonato Mundial das Profissões. Este assunto, que eu não sabia ser tão actual, lembrou-me que, precisamente na minha freguesia, há mais de 30 anos, um jovem na altura com 19 anos, chamado António Jorge Gonçalves Barbosa, foi seleccionado para as Olimpíadas Mundiais das Profissões. Corria o ano de 1993, e o Jorge rumava numa viagem de 3 semanas a Taiwan, Estado insular da China.

Mas a história do Jorge na arte da canalização, começa mais cedo, aos 14 anos, quando decidiu começar a trabalhar nesta área. Depressa decidiu querer especializar-se, e aos 16 inscreveu-se no Curso Profissional de Canalização, no Centro de Formação do IEFP de Santa Maria da Feira. Escusado será dizer que, na altura, sem internet nem telemóvel, foi uma verdadeira aventura rumo ao desconhecido. Conta-nos, a mim e à sobrinha Sara Alves, (esta, sim, a verdadeira repórter nesta entrevista) que a sala de aula era uma espécie de pavilhão, em que cada um tinha a sua “cabine” de trabalho. Acrescenta que “O que me valeu foram os dois anos de experiência prática, pois apesar de ser o mais novo da turma, muitas vezes ajudei os professores a explicar a matéria aos colegas e, inclusive, planeava as próximas aulas com os professores. Era engraçado, foram bons tempos”, recorda o nosso entrevistado com nostalgia.

O bom desempenho e interesse no curso valeram-lhe a confiança dos formadores, responsáveis pela sua inscrição no Campeonato Regional, que o Jorge venceu, e permitiu a sua presença na competição a nível nacional. Também essa prova o Jorge concluiu em primeiro lugar, com a recordista pontuação de 94 pontos percentuais (lembra, 22 pontos acima do segundo classificado!). Esta nota viria a qualificá-lo para as Olimpíadas Mundiais.

Foi em Julho de 1993 que o Jorge teve oportunidade de representar o nosso país, no 32º Concurso Internacional de Formação Profissional, nesse ano realizado em Taipé, capital de Taiwan, China.

A história deste evento remonta ao ano de 1950, quando se disputaram em Madrid, os primeiros Campeonatos Internacionais das Profissões, entre Portugal e Espanha, no qual participaram 24 concorrentes, 12 de cada país, distribuídos por 12 profissões. Esta iniciativa inédita conduziu, ainda na década de 50, à criação de uma organização, actualmente designada por WorldSkills International (www.worldskills.org), assente em pressupostos de cooperação, partilha de boas práticas e promoção da importância das competências profissionais no desenvolvimento socio-económico dos países. Em 1964, Portugal teve a oportunidade de realizar o 13.º Campeonato Internacional das Profissões, em Lisboa, na Escola Industrial Marquês de Pombal, uma das mais antigas e mais bem cotadas escolas nacionais. A partir de 1967, o número de países concorrentes começou a crescer e a expandir-se pelos restantes continentes, envolvendo actualmente 85 membros. Em 2020 cumpriram-se 70 anos desde que Portugal participou pela 1.ª vez num campeonato de profissões, assinalando-se, assim, o nascimento do movimento que hoje tem uma dimensão mundial. Até hoje, participaram 777 jovens portugueses no concurso.  O Jorge foi o primeiro canalizador português a apurar-se para esta competição. “Competi com colegas de todo o mundo, alguns estavam a preparar-se há mais de três anos. Tinham ferramentas que nunca tinha visto em Portugal.” Recorda que, a nível tecnológico, a competição tornou-se desigual, pois não estavam ao mesmo nível. No entanto, o seu gosto pelo trabalho, precisão e perfeccionismo, permitiram-lhe, ainda assim, o nono lugar no campeonato. Conta-nos que a prova “foi a montagem de instalações sanitárias e de diversas tubagens, com características díspares”, e que sentiu muita adrenalina e entusiasmo na realização da mesma. Ainda hoje, passados 31 anos, exerce a sua profissão com a mesma paixão e entusiasmo. No entanto, outras oportunidades profissionais surgiram e poderiam ter sido uma opção para Jorge, nomeadamente a formação. Foi convidado para exercer essa actividade, formador no curso profissional de canalização, mas as raízes falaram mais alto, e o Jorge optou por regressar à sua terra e criar o seu próprio emprego.

Vive feliz em Cossourado, freguesia da esposa Andreia Barbosa, é pai da pequena Benedita e do jovem Ricardo. Homem modesto, generoso, com sentido de humor, inspirou-me para escrever sobre o seu percurso profissional, e espero ser inspirador para os nossos jovens (e menos jovens), que ponderam hoje escolher uma profissão, e muitas vezes não têm conhecimento dos caminhos a seguir. Todas as profissões são válidas, têm valor e podem trazer muita satisfação, entusiasmo e prosperidade, quando desempenhadas com gosto.