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SINTA A DEMOCRACIA

14 de Maio de 2019 | Helena Ramos Fernandes
SINTA A DEMOCRACIA
Opinião

 

No passado dia 6 de Maio comemoraram-se os 45 anos do partido que evidencia a palavra democracia na sua sigla – o PSD. Um dia muito importante para alguns, ou mesmo para todos. Certo é mesmo o quão importante foi este dia para a democracia. Terá alguém alguma dúvida quanto a isso?

Para os esquecidos ou distraídos, ou então para aqueles que simplesmente não sabem o que esta palavra significa, democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo. O povo é soberano e é o povo quem mais ordena. Mas será que ainda é o povo quem mais ordena?

Verdade é que vivemos em democracia porque somos nós que escolhemos os nossos representantes. Os eleitos. Os líderes com rumo e vocação. Os escolhidos. Aqueles que vão gerir o que é de todos. Aqueles que vão cuidar e defender o que é nosso. E no sistema democrático em que vivemos, as eleições são os nossos campos de batalha e o voto configura-se a nossa arma. Uma arma tão importante e decisiva que desprezá-la é deixar ao acaso e à sorte o nosso futuro e, mais importante ainda, o futuro dos nossos filhos.

O dia 25 de Abril foi importante para esta nação. Foi importante para todos, povo e seus representantes! O dia 6 de Maio também o foi. Mas foi importante sobretudo para o povo.

Ambos foram muito importantes. Mesmo não os tendo eu vivido, pois apenas tinha quatro anos de idade na altura, eu consigo senti-los. E acredito na democracia. E para si, caro leitor, como foi? Como revê esses dias? Consegue senti-los?

O importante não está nos dias em si, nem nos que protagonizaram o que aconteceu nesses mesmos dias. O importante está no que resultou desses dias. Mas sobretudo está nos que os viveram e sentiram com sinceridade. E nos que não os viveram, mas que os conseguem sentir. Todos foram ou são importantes. E todos nós deveríamos senti-los todos os dias.

No entanto, caro leitor, olho em meu redor e já não entendo o que vejo.

Tenho a sensação que as pessoas deixaram de sentir o que significaram esses dias. O passado e sua história parece ter deixado de fazer sentido para elas. Sinto a democracia em mim mas não a pressinto ao meu redor. E algumas vezes eu própria a deixo de sentir.

Vejo muita vontade em vencer. Mas por vezes não entendo o que realmente se pretende vencer. Vejo medo e muito receio. E em alguns contextos sinto esse medo mas evito alimentá-lo. Sinto hipocrisia e sinto a inveja do que por vezes nem existe. Sinto orgulho por quem tem coragem e não se deixa manipular. Sinto ódio quando pressinto manipulação por interesses estabelecidos.

Mas o que me preocupa realmente é sentir que o povo aceite cordialmente ser conduzido. Mesmo quando é conduzido por quem parece ter perdido o rumo. Acontece frequentemente perder o rumo, o sentido das nossas acções. Perdemo-lo por engano, por distração. Mas também o podemos perder por vontade e por interesse.

Olho em meu redor e sinto a presença de falta de rumo e não sinto a vontade do povo em corrigir esse desvio. O povo, aquele que deveria ser soberano. Aquele que mais ordena.

E você, caro leitor? Sente essa vontade? Aquela que vem de dentro, não se sabe bem de onde.

A minha esperança é que os escolhidos, aqueles que se desviaram do seu propósito inicial, reencontrem o rumo e percebam que sem este e sem seguidores não passam de líderes sem rumo e sem vocação.

Infelizmente sinto inúmeras vezes a sensação, demasiado real, de que sou obrigada a viver em função da vontade dos que perderam o rumo. Ou que se acham os soberanos.

Tento cumprir com tudo o que me é exigido. E luto em demasiados momentos para que os meus direitos sejam respeitados. Tal como qualquer cidadão com senso de justiça, não quero favores, nem muito menos facilidades. Quero é que os meus direitos como cidadã cumpridora me sejam entregues ou restituídos sem que eu tenha que os exigir.

O meu perfil como cidadã pode não ser o mais perfeito, mas no mínimo sei definir-me. E você, caro leitor, está satisfeito com o seu? Sabe definir-se? É cidadão activo ou passivo? É consciente ou inconsciente? É presente ou omisso? Indiferente? Cumpridor e indefeso? Cumpridor e satisfeito? Não cumpridor mas consciente ou incumpridor por necessidade? Exigente ou relaxado? São tantas as possibilidades.

O meu propósito, caro leitor, não é saber onde se encaixa. O meu propósito é saber se realmente consegue definir-se como cidadão. E o mais importante é se isso lhe causa algum tipo de sentimento.

Por fim, nunca esqueça que numa batalha todos os soldados importam. Sobretudo aqueles que sabem manejar bem a sua arma. E nas próximas eleições não falte ao chamamento. Para o seu bem e para o bem de todos, use a sua arma e sinta a democracia.

 

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