Eu sou de Coura mas não nasci neste concelho que adoro, nem tão pouco neste país que tão bem me acolheu. Acualmente vivo, resido e trabalho em Paredes de Coura, os meus descendentes nasceram, cresceram e estudaram cá, um deles ainda estuda. Parte de minha família está cá e também dependem deste concelho. Os nossos impostos são colectados aqui e o nosso dinheiro, em grande parte, é gasto por cá. Eu costumo dizer que faço parte dos courenses activos. Não retiro a importância a todos os outros que procuraram condições de vida por outras terras. São igualmente courenses, são courenses de coração, são courenses que nos transmitem força e orgulho. E pelos quais eu tenho imenso respeito.
Os courenses activos como eu, dependem directamente de tudo o que se passa no concelho ao longo de todo o ano. Todas as decisões que possam melhorar as nossas condições de vida são bem-vindas. No entanto, estas devem ser escolhidas por nós, ou pelos nossos legítimos representantes, aqueles que tal como nós vão beneficiar de tais escolhas. E não pelos courenses de coração, aqueles a quem essas melhorias ou adaptações pouco ou nada irá afectar. Porque actualmente nem vivem cá, nem dependem diretamente deste concelho.
E você, caro leitor? Encontra-se numa situação semelhante à minha? Ou é de Coura de coração, passando por cá, de vez em quando, ou quando a saudade aperta?
Todos somos courenses quando nos sentimos courenses! Esta afirmação é legitima e aceitável. O que não é legítimo nem aceitável, na minha opinião, é que alguém que tenha nascido cá e que por qualquer motivo tenha construído e cimentado a sua vida fora do concelho, alguém que não viva, não trabalhe nem tenha cá filhos a crescer, queira decidir sobre qual deve ser o rumo de Paredes de Coura. Não considero sensato que estes “outsiders”, mesmo que sejam naturais de cá, decidam sobre como deve ser gerido o concelho onde vivemos. A maioria das decisões tomadas sobre o património courense, sobre as infra-estruturas a instalar, apoiar ou restaurar, sobre as prioridades para melhorar a nossa suposta qualidade de vida, são indubitavelmente da nossa responsabilidade. Quando digo nossa, digo, quem depende diariamente de todo este sistema social, económico e territorial. O sistema que suporta todas as nossas necessidades de bem-estar, qualidade de vida e que nos oferece oportunidades. Quem deve ter o poder de decidir sobre ele somos nós, ou os nossos legítimos representantes, aqueles que foram escolhidos por nós. E, caro leitor, na minha opinião, os nossos representantes devem viver, trabalhar e constituir família nesta nossa terra. Não considero legitimo que alguém que não contribua directamente para o concelho, queira decidir sobre o que é melhor para nós. Ou como deve ser empregue o dinheiro aqui gerado, parte advindo dos nossos impostos, resultado do nosso trabalho, do suor dos courenses residentes, dos courenses activos.
Estes “outsiders” podem sempre opinar, orientar, oferecer ajuda com base no seu conhecimento de causa por outras bandas, mas na minha opinião, não devem decidir sobre escolhas com as quais não vão colidir no seu dia-a-dia.
Se eu vivo no interior, como posso ter certezas sobre o que é melhor para quem vive na zona costeira. Como posso saber se aquela infra-estruturas é mais adequada do que a outra, se eu nunca precisei nem talvez nunca venha a precisar nem de uma nem de outra. Ouvir os outros falar sobre um problema é importante e pode conduzir à identificação de uma necessidade, mas sentir na pele o efeito desse problema é muito mais importante e resulta sempre no aparecimento de uma solução válida.
Decidir não é fácil! Decidir com conhecimento de causa, torna esta tarefa um pouco mais fácil. Por isso, eu considero que um autarca deve viver, sentir e depender do concelho que vai gerir. Um autarca deve ser um político de proximidade real.
Por vezes os políticos erram na tomada de algumas decisões. É natural, e errar é humano. Mas se estes políticos sentirem na pele o erro que cometeram, facilmente encontrarão uma solução correctiva válida. É isto que faz sentido na governança de um território. Um bom político deve traçar prioridade para o território que está sob a sua gestão, e consequentemente ele não irá agradar a todos, em todos as decisões que tomar. Mas isto, pensando bem, não fará dele um mau político. Quando alguém tenta agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo é porque ou não é confiável ou está mais focado na caça ao voto do que propriamente na boa gestão do que é de todos. Isto faz sentido para mim! E para si, caro leitor, esta minha opinião faz algum sentido?
Vou aproveitar o final de crónica para parabenizar a autarquia pela concretização da tão sonhada ligação a A3. Esta era indubitavelmente uma das prioridades para este concelho e para todos nós. Estes autarcas conseguiram de forma inteligente concretizar algo que parecia impossível. Não posso deixar de colocar duas frases proferidas pelo presidente do nosso município, no agradecimento que efectuou a todos os que sonharam com esta ligação “…nós só fomos o instrumento, aqueles que demos corpo a um sonho, aqueles que transformaram o sonho em realidade” e reforçou dizendo que “…o impossível é sempre um bom domínio para trabalhar, porque lá há menos concorrência e portante as oportunidades de êxito são sempre maiores”.
E agora que venha o gás natural, caro sr. presidente!