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UM DIA EM NOME DA MULHER. QUANDO OS MIRTILOS NOS ALIMENTAM OS SONHOS

9 de Julho de 2024 | Sara Cunha
UM DIA EM NOME DA MULHER. QUANDO OS MIRTILOS NOS ALIMENTAM OS SONHOS
Destaque

A natureza liga as nossas almas e o trabalho cria amizades. A colheita, em sintonia com as longas conversas sobre os mais aleatórios tópicos, cria um companheirismo imbatível. Existe uma compreensão profunda entre o grupo que se une, em que a necessidade de estar ali, seja para o sustento ou pela mera experiência, reflecte como cada indivíduo trabalha arduamente na vida. Não pretendendo criar uma divagação filosófica, focar-me-ei no papel das mulheres na agricultura, concretamente, na apanha dos mirtilos.
Não é novidade que o papel da Mulher sempre foi questionado ao longo da História. No entanto, em boa verdade, a Mulher teve uma importância inquestionável no desenvolvimento da agricultura. Hoje podemos afirmar com veemência que as mulheres são as trabalhadoras braçais da Sociedade. Na apanha do Mirtilo são estas guerreiras que se dedicam ao duro trabalho da colheita, mesmo nos dias mais quentes. Saber apanhar Mirtilos é uma arte e para saber identificar os melhores frutos é preciso a prática de uma vida.
As guerreiras, eternas lutadoras pela igualdade sem saberem da sua conquista! Estas são as nossas trabalhadoras dos campos, das apanhas de frutos. Onde o sol queima, os braços doem e as pernas não cedem. Dia após dia percebemos uma dedicação de ouro a uma profissão esquecida pela maioria. A agricultura é o trabalho mais nobre, apesar de muitos ignorarem a dificuldade e importância da presença deste trabalho braçal na Sociedade.
Resiliência, força, paciência, amor e companheirismo são as palavras que merecem ser gritadas às nossas mães, avós, tias e primas. A tradição dos campos não morre por causa delas, a tradição vive alimentada pelos sonhos que elas carregam. Os sonhos que vivem dentro de todas nós e que nunca morrerão connosco, os sonhos que serão passados de geração em geração, reflectidos nas palavras doces, no trabalho familiar dos campos, na beleza do viver. Ser mulher é ser uma trabalhadora, uma companheira das tradições, uma lutadora dos campos.
Experienciei esse companheirismo, vivi um dia no meio das lutadoras e percebi o quão duro consegue ser o desempenhar deste novo papel. As mulheres das apanhas do mirtilo são o próprio sonho, as musas das gerações passadas e futuras.
A apanha de mirtilos é o cenário mais perfeito deste papel da mulher: a portadora dos sonhos. Cada fruto apanhado com a dedicação da alma feminina traz mais felicidade ao Mundo. Diz-se que tudo o que é feito com amor sabe melhor, do mesmo modo, tudo o que é colhido com amor sabe infinitamente melhor. Por isso, idolatremos as portadoras dos sonhos pelos seus corpos cansados das apanhas e gritemos os nomes das nossas mulheres nos campos.

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