Eu vivo num território de montanha classificado como sendo de baixa densidade populacional. Eu vivo num território onde o emprego é escasso para os jovens licenciados. Talvez porque o escasso emprego especializado é ocupado pelos pais de alguns destes jovens. Num território onde a agricultura familiar é uma realidade, mas ainda pouco organizada, teimando em não se especializar, mesmo que com base na diversidade. Num território onde o laço familiar é mais do que genético, mesmo que não o seja. Onde as pequenas empresas, para não utilizar o micro, sobrevivem sobretudo pela mão da família. Vivo neste território por opção.
O programa das festas da bendita bazuca já se encontra a circular há algum tempo pelos gabinetes dos que possuem o privilégio do acesso à informação, ou dos que por inerência profissional estão atentos a estas questões. Neste programa incluíram unas medidas muito bem-vindas para os territórios como o meu e talvez seu, caro leitor. O que é que se está a desenhar para os concelhos como este? Tem estado atento às medidas e aos apoios que vão surgindo?
Abriu no início deste mês um concurso para a criação de Agendas Mobilizadoras e Agendas Verdes para a inovação empresarial. O que será que se pretende com estas Agendas, caro leitor? Pretende-se com elas consolidar e expandir a ligação sinérgica e de progresso entre o tecido empresarial e o sistema científico e tecnológico. Estas servirão, através de um processo de auscultação, em que poderão participar todas as entidades relevantes de natureza empresarial, dos sistemas científico e tecnológico, e agências públicas, para identificar as reais oportunidades de investimento e capacidades de execução, os pactos de inovação e os projectos mobilizadores a apoiar. A pretensão é que se criem consórcios que deverão incluir empresas, entidades não empresariais do sistema de I&I, entidades gestoras dos clusters de competitividade, entidades da administração pública e associações empresariais ou outras associações relevantes para a área objecto do projecto. (in Aviso Abertura de Concurso n.º 01/c05-i01/2021)
Eu, acredito caro leitor, que os nossos governantes ou candidatos, porque estamos próximo de um período eleitoral, nos vão oferecer mais do que promessas para dias melhores. Estou certo que irão aproveitar esta oportunidade como ponto de partida para analisar o que realmente é necessário fazer para que o nosso território se torne mais do que competitivo. E eu acredito que estes criarão sinergias positivas, de dentro para fora, e não ao contrário, com base no território e nas suas gentes. Estas terras estão saturadas de ideias que vêm de fora, ideias com moldes perfeitos, mas prefeitos e não adaptáveis à nossa realidade. Os interesses comuns devem, a meu ver, sobrepor-se aos interesses pessoais. Maomé é que vai a montanha e não o contrário.
Eu, mesmo com o tempo contado a conta-gotas, vou espreitando pelo que está para chegar, com uma atenção selectiva. Gostaria de ter mais tempo e recursos para analisar tudo com maior atenção. Mas tempo é o que não me sobra, tal como acontece com a maioria dos trabalhadores que procuram pelos dias melhores que lhes são prometidos de tempos em tempos.
Atenta a tudo, vou reparando que existe quem já se encontra no caminho do conhecimento, nas opções escolhidas ou impingidas por envelopes recheados de dinheiro.
Com dinheiro, mesmo que ainda encerrado em envelopes, caro leitor, torna-se mais fácil prometer e fazer. Esperemos ansiosos por melhorias para este território. Os dados já foram lançados e é obvio que quem vai à frente ganha vantagem. No entanto, a informação está o alcance de todos aqueles que a procuram. E fica a dica para quem a quiser receber, ‘se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha’.