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VIDA DE EMIGRANTE EM ANGOLA

10 de Maio de 2022 | Utilizador Independente
VIDA DE EMIGRANTE EM ANGOLA
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Sinto-me adaptado ao trabalho e ao país

“Que se lixe, não tenho nada a perder”, pensei eu numa noite de Dezembro de 2020, uma semana antes do Natal. Soube nesse dia que era um dos 50 trabalhadores na empresa onde exercia, a ficar desempregado. O maldito Covid estava a afectar numa grande escala e certas empresas não aguentaram. Enviei o meu currículo para a Omatapalo, em Março de 2021 fui chamado para uma entrevista e uma semana depois fui contratado.

E assim começou o longo processo do visto de trabalho, das vacinas (quatro), de toda a documentação e em finais de Agosto recebi a mais aguardada chamada – tudo preparado para seguir viagem! Viajei dia 9 de Setembro, despedi-me da minha família e amigos e apanhei o avião com escala em Lisboa. Tomei o meu último café português e entrei no avião em direcção a Luanda.

Sentia-me preparado. Cresci a ouvir as famosas “histórias de Angola”, contadas pelo meu pai, tio e prima. “Nada me vai surpreender”, dizia eu. Aterrei em Luanda e mal saí do avião, imediatamente as minhas mãos ficaram húmidas e a minha visão ficou turva. A transpiração era tanta que me entrava nos olhos e me impedia de ver. Recompus-me e saí do aeroporto.

No caminho para a base de vida deparei-me com diversas situações que me tinham contado, mas nada me assustou. No dia seguinte, reencontrei o meu pai e não pude deixar de pensar: “estou pela primeira vez em África, com o meu pai, ambos a trabalhar na mesma empresa… será sem dúvida uma boa memória para relembrar daqui a uns anos”.

Como era suposto, despedi-me do meu pai e apanhei mais um avião para o Lubango, o meu destino final. Ao chegar ao Lubango conheci o condomínio onde ia morar, com cerca de 5 km de perímetro e onde moram mais expatriados portugueses. Como paragem obrigatória a todo o courense recém-chegado é a Casa Courense do Lubango, casa do meu tio e onde todos os courenses, e não só, se juntam ao domingo para um almoço descontraído. Do outro lado dos muros que percorrem todo o perímetro do nosso condomínio descobri toda uma envolvente de miséria, os “quimbos”, como se diz por estas terras.

O primeiro mês foi o mais fácil, tudo é novidade e a nossa mente está ocupada a processar todas estas novas informações. Nem pensamos na vida que deixamos em Portugal. No mês seguinte as saudades da família, dos amigos e da terra que deixamos para trás começaram a apertar. A vontade de voltar era muita, mas acreditava em mim o suficiente para saber que ia conseguir adaptar-me a esta nova realidade.

Estamos agora em Fevereiro de 2022, 6 meses depois, e sinto-me bem. Adaptado ao trabalho e ao modo de vida que é completamente diferente da vida na Europa.

Ainda tenho muito para descobrir em Angola. Até ao momento, apenas me deslumbrei com o deserto e as praias desertas do Namibe, mas espero conseguir conhecer outros locais, outras províncias, e dar o meu contributo máximo para que este povo consiga desenvolver o potencial enorme que tem.

No futuro, pretendo atingir o meu objectivo pessoal e voltar para Paredes de Coura, vila onde me sinto verdadeiramente em casa, mesmo já tendo percorrido várias cidades (Bordéus, Porto, Coimbra, Lubango, …).

A todos os meus amigos Courenses, o aguardado reencontro está previsto para Julho, no Xapas.

Ricardo Gonçalves

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