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Cinco décadas

27 de Maio de 2020 | Helena Ramos Fernandes
Cinco décadas
Opinião

Em cinco décadas tudo pode acontecer. Até o mais improvável.

O que vivemos actualmente não estava, nem nunca esteve, nem sequer na nossa imaginação. No entanto, aqui está algo que mudou a nossa vida, ou a forma como a vivemos. Vivemos, agora, com precaução, inconformados e com vontade de que tudo não passe de uma ilusão. Vivemos enclausurados num medo disfarçado de coragem.

Vencer esta guerra, caro leitor, depende sobretudo de nós. Neste momento, a nossa luta é proteger-nos. Se algum de nós for atingido a responsabilidade será sobretudo, para não dizer totalmente, nossa. Neste contexto o nosso descuido pode facilmente derrubar-nos. Mas também poderá não passar de um número, um contágio para os números que teimam em assombrar os nossos dias.

Assim sendo, o ano de 2020 vai ficar bem marcado na história de cada um de nós, e não pelos melhores motivos. Suponho que concorde comigo, caro leitor. Na nossa história ficará marcado pela chegada à Europa e a Portugal deste estranho vírus que escolhe as vítimas. Que nos obriga ao distanciamento físico e social. Pelo impacto negativo que este provocou na sociedade e na economia mundial, e infelizmente pelo número de vítimas que não resistiram.

No entanto, não posso deixar de apontar o lado positivo desta nova realidade. Por um lado, o ambiente, que parece ter beneficiado bastante com esta pandemia e consequentemente nós, humanidade, também. Por outro, este “fique em casa” que serviu para mudar as rotinas familiares. Podemos talvez afirmar que trouxe uma dinâmica positiva e diferente às famílias. Acredito que este confinamento tenha reaproximado muitas pessoas.

Voltando ao ambiente, irónico ou não, nem a menina Greta nem o Chefe de tribo Raoni conseguiram tanto em tão pouco tempo. Refiro-me a eles porque ambos estão nomeados este ano para o prémio Nobel da Paz. Pela forma pacífica como defenderam e defendem causas que envolvem a preservação do ambiente e dos seus habitats, e como apelam à união das pessoas. Nessa luta a favor do ambiente e nessa união sentida a nível mundial será caso para dizer, de uma forma figurativa, que o Covid-19 talvez estivesse a querer entrar na corrida ao Nobel. Mas cá entre nós, caso “esta coisa” fosse uma individualidade, bem podia “tirar o cavalinho da chuva”, porque os fins nunca justificaram os meios.

Talvez emitir este tipo de comparação não seja empático, no entanto fi-lo para descomprimir o ambiente pesado que ultimamente carregamos nos nossos ombros.

Ser merecedor de um prémio Nobel é algo nos provoca orgulho e admiração. Mas estes últimos são humanos e errar faz parte. Os nomeados para o Nobel da Paz destas cinco décadas que passaram, nem sempre foram exemplos em todas as frentes. Estas nomeações nem sempre são consensuais. Naturalmente quando se promove a paz, é porque existe uma espécie de guerra no ar. No entanto, alguns deles não deixaram de ser premiados por mérito.

O ano de 2020 está em aberto, e como é evidente uma individualidade merecedora receberá esta honrosa distinção. Que ganhe o melhor!

Voltando às cinco décadas com que iniciei esta crónica, as cinco décadas da minha vida, posso dizer, caro leitor, que apesar de alguns percalços, algumas barreiras, algumas dificuldades, algumas perdas, alguns medos, alguns momentos mais tristes, apesar deste Covid-19 e dos quilos a mais, fui e sou feliz porque todos os outros momentos conseguiram e conseguem contrabalançar esses “senãos”.

Faça o mesmo, caro leitor. Use bem a balança da sua vida e apesar de tudo, seja feliz!

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