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Ninho vazio

23 de Novembro de 2021 | Helena Ramos Fernandes
Ninho vazio
Opinião

No meio desta tempestade de acontecimentos políticos e de luta por soluções com impacto relevante para travar a nuvem negra das alterações climáticas, e sem esquecer esta pandemia que veio para ficar, o mundo, o país, estão na iminência de uma crise. Uma crise que tem tudo para ser feia. Uma crise que irá influenciar a vida da humanidade.

E eu, caro leitor, no meio desta confusão toda, que me afecta porque me preocupo, encontro-me igualmente em crise. Uma crise pessoal provocada por motivos mais simples, menos mediáticos, mas tão importantes para mim como serão para a maioria das mães deste planeta. E de outros talvez, se neles houver vida. E dos pais também.  Uma crise com recantos bonitos apesar de banhada em tristeza, que apenas tem o poder de influenciar a minha vida. Sofro, mas sem estar doente nem depressiva, do síndrome do ninho vazio. Isto é, e para não exagerar, sofro de algo que felizmente não me faz mal. Não passa de uma sensação que se mistura com as saudades sentidas pelo distanciamento entre mãe e filhos. E pais, com certeza.

Minha boa gente, o meu ninho ficou vazio. E agora, caro leitor? O que faço com toda aquela vontade de proteger, educar, orientar, controlar, acarinhar, brincar, sossegar, abraçar, abraçar, abraçar. Como controlar, caro leitor, os excessos de sentimentos provocados pelo distanciamento, quando os pintainhos maiorzinhos, mas só aos olhos dos outros, voltam ao ninho. Estas questões serão banais para alguns, mas são, com toda a certeza, tão importantes para uma grande maioria. Nestas questões não somos super-heróis, somos pessoas de carne e osso, emotivamente influenciadas por coisas simples mesmo quando o mundo teima em confrontar-nos com coisas difíceis. Coisas essas que vão indubitavelmente influenciar a nossa vida, caro leitor.

Os problemas sentem-se em função da sua proximidade em relação ao círculo que abraça a nossa vida. E quanto mais longe desse círculo estiver o problema, menos o sentimos. Mas será que não os sentimos?

Se olharmos ao nosso redor, na primeira linha está a nossa vida e quem dela faz parte. Se olharmos um pouco mais além aparecem outras linhas que transversalmente também entram na nossa vida. A política, a comunidade, as oportunidades e os problemas, principalmente os de nível local. Aumentando um pouco mais o alcance da nossa visão, vivemos e sentimos o que vai acontecendo pelo país primeiro e depois pelo mundo. Resumindo, vivemos e sentimos tudo o que vai acontecendo, com uma intensidade decrescente, na direcção do Eu para o mundo. Tendo o Eu e o Nós, resumindo-se a família e amigos, uma importância relevante para não dizer extrema.

Os últimos dois anos confirmam-nos que talvez devêssemos prestar mais atenção ao que se passa pelo país e pelo mundo. Mostraram-nos o quão importante é olhar para além do círculo que é a nossa vida. Devemos, caro leitor, inteirar-nos e intervir de forma assertiva sobre assuntos que dizem respeito a todos. A política é um deles. A seguinte frase, que infelizmente ouvimos constantemente, “não quero saber de política” equivale a dizer “não quero saber como é gasto o dinheiro que o Estado retira do meu orçamento” ou “não quero saber se os meus filhos têm ou não um ensino de qualidade” ou “não quero saber como me vão tratar da saúde”. Mas também poderá querer dizer “não quero saber o que vai ser feito para travar a nuvem que pode acabar com o verde do planeta azul”. Arrisco-me a dizer que mais importante do que separar o lixo em casa, será perceber quais são as verdadeiras pretensões dos políticos em relação ao ambiente e à sua protecção, ou melhor, à sua cura. O planeta está doente… e a população está à mercê de uma doença. Não será isto suficiente para que o nosso Eu acorde e perceba que todos somos necessários nesta luta contra o tempo, contra um vírus, contra um final que depende de nós todos, mas sobretudo das decisões políticas escolhidas por quem escolhemos para governar.

É urgente actuar, caro leitor. Na política, o voto dá-nos o poder de decidir em consciência a nossa escolha. Na luta pelo ambiente, o voto dá-nos igualmente esse poder. São estes os momentos que nos dão a possibilidade de sermos super-heróis em vez de pessoas comuns. O voto, seja selectivo ou mesmo em branco, tem imenso poder e torna-nos activos na deliberação do que pode ou deve ser executado por quem comanda o país, o mundo. A abstenção é não querer saber! É olhar para o Eu e esquecer que este faz parte do Todos nos momentos de decisão. Não se abstenha nas próximas eleições, seja mais um dos super-herói do Todos!

 

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