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20 de Dezembro de 2022 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Imediatamente após o desânimo provocado pelo resultado da seleção portuguesa, que acabar de perder com a seleção de Marrocos, depois de tantas expetativas criadas, ao longo de um mês, lá caímos na triste realidade de não passarmos  às meias finais de um campeonato do mundo de futebol, assisti, no Centro Cultural de Paredes de Coura, ao debate sobre “Memórias da guerra em África”, com os Professores João Teixeira da Cunha, Fernando Rosas, Jaime Nogueira Pinto, moderados pelo jornalista Carlos Magno.

Foram duas horas bem passadas, com imenso público, pelo que Coura está, de facto, na rota dos eventos culturais, com imensas iniciativas e com uma grande diversidade de temas e atores.

A discussão, essencialmente espicaçada pelo historiador Fernando Rosas, decorreu em torno do tema, pois dizer “guerra em África” não é o mesmo que dizer “guerra colonial” ou “guerra do Ultramar”, sendo a primeira uma designação mais soft em termos políticos.

Assim, não se pode escamotear que o regime político do Estado Novo promoveu uma guerra colonial, em defesa das principais terras do Ultramar, já que Guiné-Bissau, Angola e Moçambique eram as joias da coroa.

Outra ideia desenvolvida foi o antes e o depois da guerra colonial, já que surgiu em 1961 e terminou em 1974 como princípio não só de afirmação do regime político fascizante mas também de queda do mesmo, pois a revolução de 25 de Abril significou a mudança para um regime democrático, que, felizmente, já dura mais que os 48 anos do regime de Salazar/Caetano.

A guerra colonial – ou como mais se dizia por terras de Coura, a guerra do Ultramar – demorou longos treze anos, com pouco mais de dez mil mortos e de um milhão de portugueses mobilizados.

Absorvia todos os tostões do erário público e não havia dinheiro para outros investimentos, por exemplo, para educação, a saúde a proteção social. Não é por acaso que a minha geração, depois da escola primária, teve de frequentar a Telescola e rumar a outras cidades e vilas, para prosseguir os estudos liceais.

É doloroso admitir, e isso custa-me muito mais que a derrota de Portugal, que tive de sair bem cedo de Coura porque o Estado não investiu na escola pública, depauperando-se nas colónias que eram reivindicadas por aqueles que tinham esse direito universal.

O debate entre os convidados aqueceu mais um pouco quando foi introduzida a questão da responsabilidade militar, sabendo-se que, em 1961, os altos comandos militares eram contra a guerra e com o decorrer dos anos foram-se habituando, vestindo o hábito do poder.

E porque uma guerra tem sempre de acabar, a mais longa foi a dos cem anos, a guerra do Ultramar terminou a partir do momento em que os militares começaram a ver que não seria possível obter uma vitória, fosse ela em que termos fosse, já que Portugal era fortemente pressionado a nível internacional.

Mas ironia das ironias quem teve esse raio de luz salvador foram os capitães e não os generais (não sendo de colocar de lado o papel que o general Spínola assumiu nessa mentalização), pelo que eles são, por direito próprio, os Capitães de Abril, da esperança.

 

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