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28 de Fevereiro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Lendo-se o Jornal de Coura – Guarda Nova – publicado a 31 de maio de 1896, encontramos, em lugar de destaque, as festas do Espírito Santo. E diz o cronista, certamente um clérigo, e possivelmente o Cónego Bernardo Chouzal:

“Vem já de longa data a bem merecida fama da grande festividade do Espírito Santo de Paredes de Coura. O seu muito brilho e esplendor tornaram-se do domínio não só dos povos do Minho, como de todo o país e grande parte de Espanha, atraindo todos os anos a esta vila uma quantidade de forasteiros, de devotos, de crentes”.

Hoje em dia, passados tantos anos, a festa religiosa continua, mas o seu lado profano desapareceu por completo, localizando-se, no largo da Capela, um dos palcos mais icónicos das festas do concelho, totalmente dedicado ao fado, que se ouve no mais cativante silêncio da noite de 10 de agosto.

Sem profanidade, a festa perde os seus muito fregueses, poder-se-á dizer, transformando-se num ato litúrgico e pouco mais. Daí que, por volta de 1893, a festa do Espírito Santo, para além da feira franca de três dias, começou a exibir nos seus folhetos de divulgação a “exposição de gado e distribuição de prémios aos melhores exemplares das raças bovinas e cavalar, para aumentar o desenvolvimento do nosso comércio”.

Em 1896, as festas decorreram de 23 a 25 de maio, com um programa digno de ser relembrado. Assim, no dia 23, tudo começou com uma salva de tiros, com músicas e com o alegre repicar dos sinos, anunciando que a vila estava en festa e vestia de gala, como se pode ler no referido jornal. De manhã, houve missa e à noite fogo de artifício e fogo preso, mais músics de pandeiretas, castanholas, ferrinhos e concertinas.

No dia 24 de maio de 1896, às 10h, o povo assistiu à missa campal no Largo das Oliveiras – e esta designação diz-nos que nome era dado ao adro da igreja, circundado por oliveiras bíblicas – tendo sido realizadas duas exposições de produtos e bens, que foram objeto de rematação, no Asilo de Nossa Senhora da Conceição (atual Casa da Misericórdia) e no Hospital da Caridade.

No último dia, todas as atrações se concentraram na exposição do gado bovino e no gado cavalar, tendo sido distribuídos prémios monetários para os donos das melhores juntas de bois, vacas, touros, touras, para a melhor vaca leiteira, para o melhor cavalo e a melhor égua e para o “melhor touro de padreação” , ou seja, de cobrição.

E como a tradição se manteve por muitos e muitos anos, este último prémio foi para Moselos, e possivelmente para o lugar de Afe.

 

 

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