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8 de Agosto de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Com centenas de pessoas presentes, num evento cultural digno deste nome, decorreu, no pretérito 29 de julho, a reabilitação da Casa Grande de Romarigães, com uma cerimónia de abertura, cheia de palavras de agradecimento, com a inauguração da “Sala da Escrita”, por onde passarão muitas crianças e jovens de Coura ou de outras regiões, e com a primeira “Conversa na Casa Grande”, intitulada A Palavra, que reuniu dois Pereiras: um, o Vítor Paulo, Presidente da Câmara Municipal, outro, o Ricardo Araújo, humorista consagrado.

Foi um dia excecional, sem dúvida alguma, repleto de memórias e significados.

De memórias de um livro que é, sem exagero algum, o que mais genuinamente representa o concelho.

De facto, “A Casa Grande de Romarigães”, publicada em 1957, é uma das obras-primas do século XX, com os frequentes regionalismos a que Aquilino Ribeiro recorreu, nessa vontade permanente de dar voz às gentes que, com os seus trabalhos, moldavam o território e alimentavam as casas dos senhores da terra, fossem eles nobres ou não.

Ler esse romance nos dias de hoje é avivar a origem de Coura como espaço que vai conquistando a sua autonomia face aos viscondes, em luta permanente com o quão ingrata era a vida numa casa rural abastada, com alegres e tristes dias, como se fosse possível lidar ao mesmo tempo com a prosperidade e a vassalagem, com a abundância e a penúria.

A “Sala da Escrita” será, decerto, um espaço de aprendizagem da escrita, também digital, obviamente, virada quer para o futuro, quer para a imaginação que só as palavras permitem criar a partir de factos e ideias. Além disso, a Capela contígua, convertida em espaço cultural, é mais um dos muitos espaços culturais que existem no concelho.

Por último, as palavras de Vitor Paulo e Ricardo Araújo, a tal dupla excelente de Pereiras que foi responsável por um momento de muito riso e boa disposição, abordaram temas como o humor, a política, a criatividade e os receios da não compreensão. Espero que esta longa e cativante conversa seja brevemente publicada em formato de livro, que poderá incluir as duas conversas já agendadas para setembro e outubro, ou disponibilizada nas redes sociais.

Mais algumas palavras para dizer que, nos intervalos destes três momentos, tive a oportunidade de conhecer pessoas de Romarigães e de S. Martinho de Coura que conviveram com Aquilino Ribeiro.

Quando ficou mais tenpo em Romarigães, atarefado com a reconstrução da Casa do Amparo, assim se chamou primeiramente, e com a escrita de “A Casa Grande de Romarigães”, Aquilino Ribeiro tinha por hábito almoçar na Venda de Casais, onde ficava muitas tardes a escrever o tal livro que agora temos para ler, reler, apreciar, imaginar.

 

 

 

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