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19 de Dezembro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Não sei se o romance “A aldeia das almas desaparecidas. A floresta do avesso” (Parte I), de Richard Zimler, tem algo a ver com o atual conflito israelo-palestiniano, sobretudo dos falcões da guerra israelitas e dos guerrilheiros do Hamas, travado em Gaza, território controlado de modo absurdo por Israel, em flagrante contradição com as decisões da ONU.

Sempre me interessou entender este estúpido conflito no quadro do Movimento dos Não Alinhados, nascido em 1961 para contrariar o domínio militar dos Estados Unidos da América do Norte e da Rússia, então líderes do Pacto de Varsóvia e da NATO, respetivamente.

Foi com fascínio que fui registando o reconhecimento do Estado da Palestina, que se estende por Gaza e pela Cisjordânia. Porém, Israel tudo tem feito para negar e submeter o povo palestiniano à cruel realidade de um exílio permanente, como se não tivessem esse direito já consagrado internacionalmente.

Como reagiríamos se alguém construísse, no nosso quintal, a sua casa e a partir daí determinasse e controlasse os nossos direitos mais básicos?

É o que se passa com a construção dos colonatos judeus no território da Palestina, como se este povo não tivesse quaisquer direitos, sendo sujeito diariamente a inaceitáveis condições desumanas.

Respondendo à questão inicial, é seguro afirmar que o dito romance nada tem a ver com o conflito israelo-palestiniano, embora o enredo seja urdido em torno de cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo, e que tudo faziam para manter, em segredo absoluto, as suas crenças e práticas religiosas) da raia, entre Castelo Rodrigo e Salamanca.

Como também tenho uma relação umbilical com as terras de Figueira de Castelo Rodrigo, e sobretudo com Mata de Lobos, onde em 1664 se travou a batalha da Salgadela, integrada na Guerra da Restauração, entusiasmei-me deveras com a leitura do romance de Richard Zimler.

Foi com muita rapidez que li mais de dois terços do livro, até que chegou o dia 7 de novembro, do brutal ataque do Hamas a Israel, seguindo-se uma resposta não menos brutal, com todos os cenários de sofrimento humano a que temos assistido.

Perdi o interesse pelo livro, restando-me a leitura de cinquenta penosas páginas para o terminar, tendo já tomado uma decisão: não irei ler, tão cedo, deixando que o tempo crie as condições mentais para isso, a Parte II do romance, que tem como subtítulo “Aquilo que procuramos está sempre à nossa procura”.

Pois é, aquilo que Israel e o Hamas – porque a Organização para a Libertação da Palestina é de outra água política – não querem ver é que o que deveriam procurar não deveria ser senão a paz e o entendimento mútuo entre dois Estados independentes, de pleno direito internacional.

 

 

 

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