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20 de Outubro de 2020 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Agora, sim, escrevo sobre o conteúdo do jornal courense “O Clamor do Povo”, um “jornal democrata cristão”, de 11 de maio de 1899. Para além do artigo a que me referi, na crónica anterior, na primeira página, como noticiário, surge destacado: “Câmbio brasileiro – o câmbio do Brasil sobre Londres está a 75,16. O ágio das libras está atualmente a 2$150”.

O que revela esta notícia? Decerto, que já era significativa a migração courense para o Brasil, um dos destinos da segunda metade do século XIX e que perduraria até à migração para os países europeus.

Noticia-se também o julgamento de um bando courense que se dedicava ao furto, nomeadamente o “Barral” de Infesta, o “Gata de Formariz”, o “Facaninha” de Linhares e a “Pescada” de Ferreira. Os muitos anos de cadeia para estes “pobretas” foi considerado, pelo relator invisível, “manifestamente exorbitante e cruel”.

Seria? Depende do crime, sendo dito que todos os furtos “consistiam em comestíveis”. Contudo, o escriba faz-se de juiz dos juízes e carrega na pena: “ora a pena que foi dada a estes réus não é uma reparação social, porque a sociedade, que estava ofendida, recebeu com indignação, por achar excessiva, e mal poderá concorrer para a regeneração dos condenados, porque a barbaridade desespera e não corrige”.

Lá aparece, na página 2, “uma ligeira trovoada, acompanhada de alguma chuva”, e mais uma notícia de crime: o assalto, em Carreiros, Ferreira, ao cavaleiro José da Cidade, de Insalde, perpetrado por um homem mascarado, mas coitado, já ao mesmo senhor fora furtada, na penúltima feira de Ponte de Lima, uma carteira com 605$000 réis.

Aparece também nessa página o programa das “Grandes festas e feiras francas anuais do Espírito Santo de Paredes de Coura”, nos dias 20, 21 e 22 de maio, promovidas pela Câmara Municipal, pela Mesa Real Confraria e pelo Comércio da Vila, acompanhada do regulamento da exposição de gados.

Pela página 3, a propósito do círculo eleitoral nº 2  – Valença e Paredes de Coura, o conselheiro Miguel Dantas é colocado nas nuvens políticas do endeusamento, quer por Coura estar no mapa político, quer pelo desenvolvimento do concelho que lhe era totalmente devido.

Nos anúncios, “Narciso José Neves, comerciante nesta vila, previne os seus fregueses e o respeitável público que tem um depósito de cal fina de 1ª qualidade, assim como cimento de diferentes marcas, que vende por preços sem competência”.

Consta ainda da publicidade “A Mala Real Inglesa”, paquetes a sair do porto de Leixões e de Lisboa para Pernambuco, Baía, Rio de Janeiro, Montevideu, Buenos de Aires.

Não esquecer, para quem ainda pretenda viajar: “A bordo há criados portugueses”.

A última página é digna de um jornal de letras: publicidade ao grande romance dramático “Os dois garotos”, ao “Portugal Antigo e Moderno – Dicionário de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de grande número de aldeias”, bem como d’ ”O Famoso Galrão”, da “História de Portugal, de Manuel Pinheiro Chagas, e do romance “Uma rapariga pobre, de Louis Boussenard, ou seja, o “romance dos humildes, dos trabalhadores e dos dedicados”.

Tenho dito.

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