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9 de Março de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Desentendi de entender. Verdade é. Mirem e veja, com olhos de ver… se amanhã meu dia for, eu depois-de amanhã não me vejo, descarada verdade também, você entenda este meu falar sertanejo de veredas que não envelhecem pelo vento fugido dentro do sertão, de infindas terras. Cavalos esticados das serras não são carne alimentada de boiadeiro sujo de pó vermelho tristecendo bois muitos, de longes casas-de-fazenda, erguidas em hectares que sobem sem vista de alcançado esforço em céu do sertão. Bala é verdade aquela que não gosta senão matar, jagunços mais que outros bichos, que gente sempre ouve. Mire e veja, ouvidor de estórias acontecidas e escreva sílabas de palavras nascidas em rio Francisco deste Riobaldo, jagunço sempre fui, mas professor de ler e contar também, meu padrinho, e pai também, assim queria para futuro dele. Jagunço é morador das grandes distâncias, vida toda cheia de andanças. Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias, de vidas muitas. Viver é negócio muito perigoso. Sertão é o grande. O resto pequeno é vereda. É tudo, boi e boi e campo e campo, com rio grande, ribeiros e ribeirinhos, é lugar não geringonciável. Viver é muito perigoso, e não é não?  Sertão tem diabo de muitos e estranhos nomes, tem religião também para não afracar, para não desendoidecer, desdoidar. Atôa andam por aí essas estranhas coisas, mas eu sou Riobaldo, o jagunço que não morre não, no sertão, conta vossasenhoria sua sorte, com lutas e guerras, em toleimas muitas de armas, feridos e mortos, desafiando costumes velhos de lei. A guerra tem querer, tem, tem. Eu sou donde eu nasci. Sertão é o sozinho, é dentro da gente. Não pergunta não quem foi que foi que foi o jagunço Riobaldo. Não sou coisa. Respiro a alma daqueles campos e lugares. Sou a coisinha nenhuma, como céu que é fim de fim. Viver é muito perigoso, já disse. O que é que eu era? Um raso jagunço atirador. Eu tinha medo de homem humano, falava revólver meu, casado com ele fui, sem amor de Otacília perto de eu, mas tive de conversa Diodorim, esse homem que mulher era. Cada dia é um dia. Mas triste é a vida do jagunço, sem lugar de algum cômodo. Fui muito e nada. Aprendi. Vivendo se aprende, mas o que se aprende mais, é só fazer outras maiores perguntas. O leitor bem me entenda, já pode entender de desatender. A gente muito aprendemos todos.

“Grande sertão: veredas” é minha vida e obra de muito querer do meu narrador João Guimarães Rosa.  Viver – não é? –  é muito perigoso. Sempremente.

 

 

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