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13 de Abril de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Se sobre o primeiro número da imprensa courense algo já foi dito, numa mistura de política e religião, passemos ao número três do Jornal de Coura, de 15 de dezembro de 1895, onde se fala um pouco da nova Câmara e muito de Miguel Dantas.

“O novo presidente será o sr. Dr. José Maria Nogueira. É a primeira vez que vem assumir a responsabilidade daquele lugar, mas nem por isso se deve duvidar que a sua gerência em nada desmerecerá da do sr. Conselheiro Miguel Dantas, que, diga-se a verdade, foi sempre brilhante”.

Admitindo o cronista, não revelado, que o concelho muito tem progredido, logo vem a crítica ao representante-mor do partido Regenerador: regista-se o progresso na Vila, estando tão diferente que, quem a tivesse conhecido, há uma dezena de anos, não a reconheceria agora, “mas o resto do concelho, as diferentes freguesias que o compõem, tem vivido num esquecimento quase completo … e o que tem sido feito é pouco, muito pouco, pelo lavrador”.

Aqui começa o discurso fraturante entre a Vila, no seu lado urbano dentro do espaço rural, que se agigantava pelos novos edifícios e lojas, e as freguesias, como se estas fossem o lado profundo, obscuro e tristonho do concelho, como o mais rigoroso inverno.

E como o novo presidente “é um amigo sincero do povo”, nada mais é dito, exceto a grande novidade, ao nível do desenvolvimento local, supostamente na Vila, revelada nesta frase “vamos ter candeeiros a petróleo.”

Aproximando-se uma campanha eleitoral autárquica, o tema das freguesias não será, decerto, um tema presente, mesmo que tudo aquilo que tem sido feito seja sempre considerado como insuficiente, pois agora parece que apenas existe a questão da água.

Diz-se, por isso, que as águas foram privatizadas, vendidas ao desbarato e que a faturação desmedida é culpa deste e daquele e daqueloutro.

Não, e não! As águas em baixa foram somente concessionadas por um determinado período de tempo, mantendo-se públicas como recurso inalienável que são. Esta verdade não pode ser distorcida.  Se houve erros de faturação – e reconheça-se que foram muitos e inconcebíveis nos tempos de hoje, dominados pela informática – devem-se à má gestão, que não é da responsabilidade da Câmara, e nunca à mudança do regime seguido, na grande maioria dos concelhos, que não têm a dimensão suficiente, em termos de população, para criar um regime de distribuição de água em larga escala, condição imposta para se ter acesso aos “dinheiros” da União Europeia, tão indispensáveis para realizar as necessárias intervenções na rede.

No entanto, desenganem-se os arautos da desgraça alheia, já que os eleitores courenses manterão a mesma confiança política naqueles que elegeram com inteligência, sabendo reconhecer a futilidade de certas promessas eleitoras, que valem o que valem.

 

 

 

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