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SAIBAMOS RECEBÊ-LOS

12 de Agosto de 2019 | Helena Ramos Fernandes
SAIBAMOS RECEBÊ-LOS
Opinião

“A Madonna é bem-vinda, mas Portugal quer imigrantes para estimular a economia”. A frase foi escrita há dias pelo jornal norte-americano Bloomberg. A necessidade de atrair profissionais qualificados já chegou à imprensa estrangeira, que nota que são vários os exemplos de famosos que escolheram comprar casa no país, uma tendência que não resolve, no entanto, as dificuldades.
Estamos em pleno mês de Agosto. Altura em que os nossos, que escolheram procurar uma melhor vida lá fora, nos vêm visitar cá dentro. Um tempo em que todos eles vêm matar saudades de uma terra que os viu nascer. Uma época em que muitos deles já trazem filhos que já não nasceram cá mas sim lá e que falam já um português com maior dificuldade. No entanto, todos eles com Paredes de Coura e todo o Alto Minho no coração. O que pessoalmente me traz recordações de um passado que eu vivenciei na primeira pessoa. Sou orgulhosamente filha de emigrante! Pertenço a uma família que voltou para investir na sua terra natal, Paredes de Coura.
Estas famílias merecem, acima de tudo e em primeiro lugar, o nosso inteiro respeito. A nossa admiração por todo o empenho e sacrifício que fazem ao longo de todo um ano longe dos seus mais queridos.
É claro que, nos dias que correm, a internet – mais particularmente com as redes sociais – aproxima as pessoas. O facebook, entre todos os males que possa ter, encurtou distâncias. Tornou-se uma preciosa ajuda a todos esses autênticos embaixadores que falam bem de nós além-fronteiras. Aproveito para parabenizar os administradores dos dois grupos courense virtuais que muito têm feito para diminuir a distância e alimentar o Amor e a alma courense, ‘Paredes de Coura – Terra Amada’ e ‘Paredes de Coura – Minha Terra Minha Alma’. Mas a saudade existiu, existe e existirá sempre.
Como tudo na vida, por muito perfeitas que sejam as virtualidades nunca passaram exactamente disso mesmo. A sensação de sentir ao vivo é sempre única e é aquela que o ser humano almeja sempre… como um concerto, por exemplo. Por mais perfeitos que possam ser o som e a imagem num ecrã gigante, nada alcança a sensação de vermos a nossa banda de eleição ao vivo. E é também por isso, sobretudo por isso, que temos os nossos emigrantes cá.
Eles estão cá para nos verem. Para nos sentirem. Para tocar, ver e ouvir os sons da nossa terra. Aplicar todos os seus sentidos, aproveitando ao máximo escassas semanas que passam a correr neste Portugal que um dia tiveram de deixar. Vontade de voltar? Alguns têm. Outros já não. E temos também de respeitar isso. Não que não queiram, mas uma outra vida foi construída lá fora. Outros compromissos. Outras histórias.
Por isso, é muito fácil escrever que “Portugal quer imigrantes para estimular economia”. Mas temos de ter a consciência que nem todos eles estão já disponíveis para voltar. Não podemos criar a ideia de que o país que os acolheu é um inferno ou uma prisão de alta segurança. Muito pelo contrário. Se lá estão, é porque esse país é tão ou melhor que nós e permitiu-lhes ter aquilo que um dia nós não fomos capazes de lhes dar: emprego e estabilidade.
Em jeito mais de caricatura, faz lembrar o namorado que deixa a namorada por uma qualquer razão. Passam-se alguns anos e depois envia uma mensagem à namorada a dizer que está disponível para voltar a ter uma relação com ela. Claro que vale sempre a pena tentar… mas o mais certo é que a rapariga já tenha seguido a sua própria vida. O mais provável é que já tenha outro namorado ou então que já tenha criado outro tipo de relações num ambiente totalmente incompatível com um regresso.
Com os nossos emigrantes, o que se passa é quase isto. É fácil pedir-lhes que voltem. E que invistam no nosso país. Mas temos de lembrar-nos de que passámos muito tempo… demasiado tempo sem lhes fazer este tipo de pedidos. Entretanto nasceram filhos. E netos.
Por isso, sendo certo que nada perdemos em pedir, a única coisa que temos a dar-lhes é uma dívida de gratidão. O respeito e o abraço de uma terra que os acolherá sempre. A eles e a toda a descendência que não pediu para nascer num país sem quinas na bandeira. Mas que no entanto, também é certamente feliz.
Saibamos por isso, nesta altura tão importante do ano, sorrir e acolher bem todos aqueles que nos visitam e que – apesar de falarem ou dominarem outro idioma – têm um coração pintado com as cores do nosso Portugal… com as cores do Alto Minho… com os tons de Paredes de Coura. Bem-haja todos os emigrantes.

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