“Há muitos camaradas e amigos que dizem: `bom, agora já lá estamos no Governo`. Não, isto não é um governo de coligação, não é um governo de esquerda ou de esquerdas, é um governo do PS”. As palavras foram ditas há poucos dias por Jerónimo de Sousa. Uma ideia verbalizada quando ainda nem sequer passou um mês após a tomada de posse de António Costa como Primeiro-ministro indigitado.
Isto reflecte o quê, caro leitor? Isso mesmo. As fracturas começam a aparecer. As divergências começam rapidamente a vir ao de cima e isto é apenas o início.
O primeiro capítulo desta equação impossível já começou com a questão das portagens. Bloco de Esquerda e PCP bem que querem abolir portagens em algumas vias do país, sobretudo na Via do Infante, no Algarve. Mas o PS não está com muitas ideias disso. “Nós esperamos que o PS evolua”, disse o deputado comunista Paulo Sá. E se não evoluir (que será mesmo o mais certo)?
Já se conhece agora a “sirene de alarme” do PCP para evacuação de emergência: “Isto não é um governo de esquerda ou de esquerdas. É um governo do PS”.
Uns já arranjaram maneira de sacudir a água do capote. Falta agora saber de que forma vai o Bloco de Esquerda esquivar-se às previsíveis péssimas políticas que estão para chegar. Perdão. Que já chegaram. O que irá balbuciar Catarina Martins? Irá citar Jerónimo de Sousa ou terá mais coragem para além de um “lavar de mãos”?
Eis a esquerda, caro leitor.
Eis os que, na escuridão da ilegitimidade, assumiram o comando da nação.
Em menos de um mês, tudo isto já seria manifestamente suficiente para o eleitorado perceber que o resultado deste “arranjinho” a três pode tornar-se uma catástrofe para o país. Mas infelizmente ainda há mais.
Por vários sítios em que passou, o homem que levantou um país em ruína foi insultado. O homem, que pode ser considerado um herói, foi injuriado e contestado mesmo depois de ter colocado a nossa economia em crescimento. Pedro Passos Coelho, que nos tirou a todos do abismo, foi tirado do leme deste país por um outro homem sem a autorização do povo. Esse homem chama-se António Costa.
Primeiro “brilharete” que este indigitado nos oferece: “Não temos condições financeiras para eliminar integralmente a sobretaxa”. Isto, caro leitor, vindo de um PS que no seu programa previa a redução da sobretaxa de IRS para 1,75% em 2016 e eliminação em 2017. Não resta muito mais senão citar a tão celebrizada expressão de quem lidera esta rapsódia toda: “Palavra dada é palavra honrada”.
Eis a esquerda, caro leitor. Eis apenas as primeiras linhas do desenho que está a ser feito e que poderá durar ainda mais algum tempo. Um desenho que não foi pedido por mim, nem por si, nem por nenhum dos portugueses. Mas que está a ser feito.
O desenho de uma esquerda que quer repor viagens grátis de comboio para ferroviários e familiares, sem mostrar qualquer ponta de atenção ao estado em que se encontra a CP e muito menos sem importar-se com o bolso dos contribuintes.
Recorda-se do Syriza? Sim. A tal esquerda grega que há uns tempos venceu as eleições na Grécia e que, qual criança ingénua, gritou aos quatro ventos que iria virar costas às medidas de austeridade. Pois bem, a nova página tão “dourada e docemente prometida” apareceu há poucos dias. O parlamento grego aprovou um orçamento centrado na poupança, no agravamento dos impostos e em cortes na despesa, sobretudo nas pensões.
Que mais quer que lhe diga, caro leitor? Eis a esquerda.
Tal como disse Pedro Passos Coelho em Ponte de Lima, “este já não é o mesmo Syriza que ganhou as eleições em Janeiro”. Este cenário acontece agora por cá, com o PS e seus BFF (Best Friends Forever). Mas apenas com uma diferença: não ganharam as eleições.
Curiosidade: E de tanto falar em esquerda, fui pesquisar um pouco mais sobre esta palavra. Em italiano, pasme-se, diz-se sinistra. E tanto em italiano como em português, sinistro pode ainda significar pérfido e maldoso.
Em francês, gauche (esquerda) pode também querer dizer inábil, torto e pouco à vontade. Já os ingleses têm a palavra sinister para sinistro. No entanto, a palavra right (direito) significa algo que está correcto.
E a terminar este raciocínio, caro leitor, desejo-lhe um Santo e Feliz Natal a si e todos os seus. E aposto que já sabe o pé com que vai entrar em 2016. Com o direito, pois claro!