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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA. AMÂNCIO BARBOSA, SÍMBOLO ÍMPAR DA DEMOCRACIA

26 de Abril de 2023 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA. AMÂNCIO BARBOSA, SÍMBOLO ÍMPAR DA DEMOCRACIA
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A presente edição do Notícias de Coura chega às bancas numa data deveras marcante para nós, portugueses. Falamos, obviamente, do 25 de Abril. Falar de Abril é falar de liberdade. É falar de conquistas, é falar do fim de uma Guerra Colonial que dizimou, física e psicologicamente, muitos patrícios que, por terras de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, defendiam um regime ditatorial.

Amâncio goza delícias da reforma na companhia de sua esposa, Felisbela

Para assinalar os 49 anos de Abril, o nosso jornal procurou ir ao encontro de alguém que personifique os efeitos nefastos de uma guerra colonial e que, ao mesmo tempo, nos desperte a memória das conquistas de Abril.

Antigo autarca de Padornelo visita memórias em entrevista ao NC.

Amâncio Barbosa, 80 anos, casado, pai de 6 filhos, é um rosto que dispensa apresentações, ou não estejamos na presença de um ex-combatente da Guerra Colonial, com sequelas físicas, e, mais ainda, perante aquele que é um dos maiores autarcas do nosso concelho, conforme o atesta a longa carreira à frente de uma autarquia. É mesmo o autarca de Abril com maior longevidade política por terras de Coura.

Falar de Amâncio Barbosa é trazer á memória Padornelo, uma freguesia pela qual lutou ao longo de 39 anos, enquanto presidente da autarquia.

Neste 25 de Abril, em jeito de uma homenagem a um homem do povo, fomos até ao Sobreiro onde, numa tarde solarenga, dedicámos largos minutos a uma amena cavaqueira. Histórias mais que muitas. Percurso de vida difícil, mas, acima de tudo, brilhante.

Nascido na freguesia de Padornelo, frequentou a escola primária de Padornelo, sem, no entanto, conseguir obter o diploma da 4ª classe. Esse havia de chegar mais tarde, aquando do cumprimento do serviço militar. Até lá, trabalhou na Boalhosa. Saía de casa ás 4 horas da madrugada, a pé, para começar o trabalho ao nascer do sol. Regressava ao final do dia, levando consigo um pequeno pedaço de broa para se alimentar ao longo do dia. Tempos duros e difíceis. Mais tarde rumou até à Beira Alta para trabalhar na construção civil.

Entretanto, a idade avança e chega o tempo de cumprir o serviço militar.  Em 27 de Abril de 1964 é incorporado em Braga, para, posteriormente, embarcar para Angola. Era o tempo da Guerra Colonial. No dia 1 de Maio de 1965 é evacuado para a metrópole, na sequência de um acidente militar que o incapacitou para o cumprimento de todo o serviço militar. Tudo terá acontecido numa emboscada, onde uma armadilha colocada pelas chamadas forças rebeldes, apanhou 2 pelotões.  Infelizmente, entre os muitos militares feridos, o Amâncio foi dos mais afectados, nomeadamente a perna esquerda. Foi, desde logo, levado para o acampamento e, dali, evacuado para Luanda. Destino: hospital militar, onde permaneceu largos dias, até embarcar para o hospital militar de Lisboa, onde prosseguiram os tratamentos durante vários meses.

Amâncio na guerra em África, em Angola

Regressou à terra natal com alguma incapacidade, resultante do acidente militar. Chegado a Padornelo dedicou-se aos trabalhos agrícolas. Casou e constituiu família. Em 1974 chega o Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril abre novos horizontes.

Com a conquista da liberdade, o povo é chamado a ter voz activa na vida comunitária. Surgem então as Comissões Administrativas, órgão que assumiu a gestão das freguesias. Pela primeira vez, a escolha é efectuada de forma livre e democrática. Ainda sem movimentos partidários, as pessoas votaram em nomes que julgavam reunir condições para governar as freguesias. Em Padornelo, o Amâncio Barbosa foi o nome mais votado, de forma livre e secreta. Face a essa votação assume, desde logo, a presidência da Comissão Administrativa. Foi o início de uma longa e brilhante carreira autárquica, que se prolongou até 2013. início de uma longa e brilhante carreira autárquica, que se prolongou até 2013.

Em 1976, aquando da realização das primeiras eleições autárquicas, é convidado a encabeçar uma lista apresentada pelo então PPD/PSD. O resultado de eleição vincou a continuidade do Amâncio à frente dos destinos da freguesia. A partir daqui foi somar vitórias consecutivas em todos os actos eleitorais a que se apresentou, primeiro pelos social-democratas e depois pelo Partido Socialista. Foram sempre vitórias folgadas e algumas delas sem listas adversárias, o que atesta as enormes capacidades deste autarca que, ultrapassado o acto eleitoral, despia a camisola política e vestia a camisola de Padornelo, terra pela qual deu todo o seu melhor.

Orgulha-se de ter contribuído, decididamente, para o desenvolvimento de uma freguesia que cresceu a olhos vistos, no reinado deste emblemático autarca. “Quando cá cheguei encontrei uma freguesia onde faltava tudo: acessibilidades, luz eléctrica, tanques e fontanários públicos, sede de Junta de Freguesia e Associação Cultural, recolha de lixo, polidesportivo, cemitério digno e património religioso devidamente conservado. Volvidos 39 anos é visível o salto que a freguesia deu, graças ao empenho e dedicação de todos padornelenses, a quem agradeço o reconhecimento que me prestaram ao longo dos anos”, afirma o mosso homem, símbolo da democracia em Paredes de Coura.

Não se considerando um político, no sentido lato da palavra, considera o 25 de Abril um momento único, onde o povo conquistou a liberdade e o poder de decisão. O povo é, e sempre será, soberano.

Sem espaço para mais narrativas, o Notícias de Coura evoca Abril com o homem que carrega o maior simbolismo da liberdade em Paredes de Coura. Foi e será sempre gratificante trazer à estampa pessoas com a grandeza do amigo Amâncio Barbosa. Padornelo e Paredes de Coura podem orgulhar-se deste senhor autarca. Um exemplo de Abril. Um homem do povo.

 

 

 

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