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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: INOCÊNCIO, UM MÁGICO DA MÚSICA

4 de Fevereiro de 2019 | Marlene Cunha
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: INOCÊNCIO, UM MÁGICO DA MÚSICA
Geral

 

Paredes de Coura foi sempre uma terra de músicos. Com bons músicos e maestros, ou não tivessem existido, por estas terras, algumas conceituadas bandas filarmónicas, desde logo, com destaque para as Bandas de Música de Infesta, Rubiães, Boa União de Castanheira e, mais recentemente, a Banda de Música dos Bombeiros Voluntários.

Dentro destes parâmetros, o NC achou por bem dar voz a alguém com destaque no panorama musical courense. Assim, fomos até Cunha, onde, ali junto da igreja paroquial, estivemos à conversa com uma antiga glória das nossas bandas filarmónicas. Um músico de créditos firmados.

Inocêncio Pereira Barbosa, 87 anos de idade, foi um clarinete de excelência. Nascido na freguesia de Infesta, cedo começou a sentir o bichinho da música. Aos 13 anos começou a dar os primeiros passos através do irmão Alfredo, já falecido. Foi ele que lhe transmitiu os primeiros ensinamentos ao nivel do solfejo. Depois, durante cerca de 3 anos, aprendeu com o conceituado e saudoso Touceira, de Infesta, músico e dirigente da banda da terra, onde Inocêncio já tocava na década de quarenta do século passado.

Foi a partir daqui que se deu o ingresso na banda da freguesia natal. Durante o percurso musical, serviu, para lá da banda de Infesta, as bandas de Rubiães, Vila Nova de Cerveira, Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura e Aboim da Nóbrega, Vila Verde, onde terminou a carreira, há cerca de 12 anos.

Ao longo de décadas ao serviço da música, lembra alguns episódios marcantes, recordando ainda os tempos dificeis de outrora, com as deslocações para os ensaios e muitas festas a efectuarem-se a pé. Havia poucos carros e poucas estradas, recorda.

Um pouco ao jeito do mundo futebolistico, as transferências entre bandas também eram muito propaladas, nomeadamente entre músicos de maiores créditos.

A propósito, recordou a transferência da banda de música de Infesta para Rubiães, corriam os anos sessenta, na altura em que existiam as duas bandas no concelho. Próximo do final da época alta de serviço, que ocorre sempre na época estival, quando faltavam 3 festas para terminar a campanha daquele ano, dirigiu-se ao senhor Touceira, músico e dirigente da banda de Infesta, fazendo-lhe saber que no final da época iria abandonar a banda, por desacordo de verbas. Apercebendo-se desse mal-estar e da intenção de saída, alguns dias depois três dirigentes da banda de Rubiães, pressionadas pelo regente da altura, o saudoso Américo Cunha, de Castanheira, abordaram-no, no sentido de se transferir para Rubiães. Para o convencer, ofereceram-lhe a módica quantia de 50 escudos por festa, quando o rácio se cifrava na casa dos vinte escudos para cada músico. Perante esta tentadora proposta, aceitou o desafio de rumar até aos vizinhos de Rubiães.

A partir do momento em que começou a ir aos ensaios da nova banda, a pressão foi enorme, no sentido de regressar a Infesta, no entanto, fez questão de honrar o compromisso, servindo a banda durante uma época, regressando depois a Infesta mas, sempre que disponível, fazia serviço também com a banda de Rubiães.

Com o desaparecimento, primeiro da banda de Rubiães e mais tarde da banda de Infesta, surgiu então a banda dos Bombeiros Voluntarios, que se aguentou poucos anos. A partir daqui surgiu a oportunidade de rumar até Aboim da Nóbrega, juntamente com um grupo de músicos courenses, onde terminou a carreira de músico, face ao avançar da idade e aos problemas de saúde que foram surgindo.

Honrando-se do percurso musical, fez saber que, para lá dos ensaios semanais da banda, tocava todos os dias em casa, entre uma a duas horas, para aperfeiçoar conhecimentos e manter o lábio em forma. Ensinou ainda, de forma gratuita, alguns músicos da nossa praça, que recebiam os ensinamentos em casa.

“A música é uma arte”, rematou o Inocêncio, com um sorriso de orgulho nos olhos.

Inocêncio na Banda dos Bombeiros dos Voluntários de Paredes de Coura, década de oitenta

 

Inocêncio Barbosa, hoje com 87 anos, confessa que nasceu para a música

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