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14 de Março de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Depois de “Vou ali e já venho”, eis que Manuel Tinoco escreve um outro livro, a que chama “Tem-te não caias”, revelando uma escrita que o tem ocupado desde os seus dez anos, iniciada com poemas, religiosamente guardados numa arca, e agora tornados públicos.

Esta é a maior surpresa que o escriba-mor do Notícias de Coura dá a conhecer, numa vigorosa demonstração de palavras soltas em torno de sonhos que povoam o otimismo do amor, transformando-se num jardineiro de palavras soltas, ligadas com vigor a pessoas que povoaram o seu imaginário de utopias, ou seja, algo que comunica pela escrita, como se estivesse do lado contrário a qualquer norma, vestindo uma alma que pensa e sente e teme e chora e abraça no mais profundo desejo.

Sim, contrariamente ao que metaforicamente diz num dos seus poemas, Manuel Tinoco consegue ser poeta e escritor, mesmo nas noites mais cerradas de nevoeiro, daquelas que escondem seus segredos no leito do Rio Coura, porque os seus poemas são rios de palavras cheias de extrema sensibilidade, qual barco vagabundo caminhando pela força dos ventos à procura da noite que pariu a lua e tem dentro de si toda a verdade.

Por isso, os seus poemas têm como alimento a habilidade imaginária, cultivada num jardim de sentimentos, em que a fantasia do real é a verdade transformada em sonho que vive dentro do amor sem fronteiras, seja no momento privado, seja na rua do amor a retalho, já que quem sente e quem sonha não fica afastado dos dualismos que toldam as ideias e escolhem as palavras mais ricas de significados, metricamente ou não distribuídas.

Todos os poemas publicados por Manuel Tinoco mostram um Eu de muitos Eus, na relação com o Nós, já que quem escreve sonhos feitos de palavras não pode cair na ligeireza de um só sentido ou de uma só direção.

Afinal, o rio que corre para o mar tem leitos fecundos que não podem ser vistos nem das suas margens, nem silenciados pelas correntes que o movem, como se eterno fosse o sonho que subjetivamente é assumido pela sua sensibilidade.

E, desse modo, o poeta confessa a sua timidez, dizendo que “sei que não tenho guarida/ na alma de um Poeta/ que ama e sente/ a Vida como eu”.

Fazendo-se poeta pela sensibilidade que busca em cada palavra, pertencente a um texto construído em momentos de louca lucidez, Manuel Tinoco mostra neste livro o seu coração debruado por intempestivas palavras que o desassossegam, não receando dizer a verdade de Si e dos momentos que captou em instantes que não voltam mais.

Poder-se-ia dizer mais sobre o seu coração em prosa, que apresenta com textos sobre os seus antepassados de Rubiães, mas esta crónica versa sobre a sua poesia, que cada leitor é convidado a saborear, como ébrio vinho que se torna poderoso.

 

 

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