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26 de Abril de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

A Prisão de Ai Pelo – tendo funcionado também como posto de comando militar e como alfândega –  localizada no suco de Lauhata, às portas de Díli, na estrada em direção a Liquiçá, começou a ser construída por Portugal em 1899 e manteve-se operacional até 1939, albergando presos políticos, principalmente os que contestavam o regime colonial e se recusavam a deixar o recanto dos reinos rebeldes, que se espalhavam pelo ondulado das montanhas.

As lutas constantes entre os régulos timorenses e o contrabando entre o Timor Português e o Timor Holandês (mantendo-se ainda hoje a divisão da ilha em duas partes, uma de Timor-Leste e outra da Indonésia) colocavam em causa o domínio administrativo da colónia, diminuindo as receitas que eram o maná da sobrevivência, sobretudo de uma colonização extrativista, aliás como foi praticada ao longo dos tempos por outros povos.

Depois do almoço, e acompanhado por alguns amigos, visitei o local num domingo, dia em que as estradas se enchem de pessoas e os locais de visitantes. E, com simpatia, fomos recebidos pelos timorenses, religiosamente hospitaleiros, que deambulavam pelas ruínas, bem conservadas, interessados tanto em registar o momento como em dialogar com os malaios (estrangeiros), numa língua híbrida, com palavras em Tétum e Português.

É um local aprazível e não se sente o silêncio pesado do campo de concentração do Tarrafal, cujas celas, espaços e objetos, por exemplo, as dobradiças e o ferrolho das portas, nos obrigam a pensar no sofrimento que ali existiu de 1936 a 1974.

Sim, Tarrafal foi o símbolo máximo da ditadura a que o 25 de ABRIL de 1974 pôs termo.

Entre Ai Pelo e Tarrafal, por mais que sejam duas prisões que ostracizassem os que politicamente pensavam de um outro modo, há uma diferença abismal, sobretudo na amplitude das instalações, agigantando-se a prisão da ilha de Santiago, em Cabo Verde, como espaço infernal, onde a morte era lenta e cheirava a ódio, e as águas gelavam a esperança dos que sonhavam com a liberdade.

E na comemoração do 49.º aniversário do 25 de ABRIL de 1974 será fundamental recordar que a liberdade que hoje existe se deve a uma revolução e que a democracia é o melhor sistema que podemos ter ao nível político, mesmo que a ameaça dos populismos seja uma evidência à qual precisamos de dizer não, porque são política e socialmente perigosos e porque apostam numa divisão social intolerável.

 

 

 

 

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