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11 de Julho de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

É normal que num concelho rural, com registos de óbitos, nascimentos e casamentos a partir dos finais do século XVI, quase todas as pessoas exercessem a profissão de lavrador ou jornaleiro.

Só mais tardiamente – e dependendo do clérigo que escrevia tais registos, sempre controlados pelos padres visitantes da diocese, que anotavam, em letra gorda e convincente, as mudanças a fazer – é que outras profissões são referidas, especialmente as de talhante, moleiro, alfaiate, pedreiro, tamanqueiro, sapateiro, tecedeira e vendedora de pão.

Porém, à medida que a sociedade se foi estratificando, foram surgindo novas profissões, sobretudo ligadas ao comércio, sem que que as atividades ligadas ao cultivo da terra tivessem diminuído.

Tenho, por assim dizer, um carinho especial pelos meus antepassados que foram lavradores, lavradeiras, jornaleiros e jornaleiras, tanto na terra de Coura, quanto nas terras de Fontoura, em Valença, de Vitorino de Piães (que chegou a pertencer ao termo de Barcelos) e da Facha, em Ponte de Lima.

Nessa roda de gerações, que cada família transporta nos seus ombros – e salvo raras exceções que abrangiam as “pessoas nobres”, ou seja, a n0breza rural que não vivia nas melhores condições, como relata Aquilino Ribeiro em “A Casa Grande de Romarigães” – nascia-se e morria-se ligado ao trabalho agrícola, sem consciência da transição de criança para adolescente, deste para adulto e depois para idoso.

Do meu lado materno, a família está ligada à casa da Veiga e do lado paterno, apesar de outras profissões terem exercido, a agricultura também pontificou como atividade principal.

Mas não é de alguém da família que pretendo falar, mas de um jornaleiro, que durante anos e anos andou pela casa de meus pais, em Santa, e se tornou membro da família.

Morava em Cristelo.

Manhã cedo, saía de casa, atravessava Lamamã e logo estava em Santa, para tomar o pequeno almoço, dedicando-se, por inteiro, às atividades de um jornaleiro, por exemplo, no campo, na horta, na lenha, como rachador – e talvez esta profissão já tenha desaparecido nos dias de hoje – e nas pequenas obras que envolviam muita força braçal.

Pouco depois do lanche, regressava pelo mesmo caminho a Cristelo, talvez com paragem obrigatória numa das muitas tabernas que existiam por todo o lado.

Era o “Tone Q’rida”, de quem guardo as melhores memórias.

Uma delas é a de lhe ter feito, várias vezes, a barba rija, sem corte algum, depois de ter roubado (melhor dizendo, pedir por empréstimo forçado) o estojo a meu pai.

 

 

 

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