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26 de Setembro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Num espaço de cinco dias, já em setembro, dei um salto à Argentina, tendo viajado via Madrid, num voo curto desde o Porto e num longuíssimo voo até Buenos Aires, e vice-versa.

Descontando os dias de trabalho, tive o dia de domingo e mais umas horas na terça-feira, da parte de tarde, para conhecer esta fantástica cidade, chamando-lhe, com toda a propriedade, não a cidade do tango, mas a cidade da cultura.

Fiquei no centro da cidade, junto ao edifício do Congresso e andei pela praça de Maio, de muita luta política, e passei pelo obelisco, símbolo maior da independência proclamada nos inícios do seculo XIX, não deixando de deambular pelo bairro de S. Telmo, pela avenida Santa Fé, onde fica a maior livraria-café da América Latina com o nomes de El Ateneo, passei várias vezes na avenida Corrientes, quiçá a mais emblemática da cultura argentina.

Trata-se, com efeito, de uma avenida com um grande número de livrarias (e nelas vi sempre muitas pessoas), bem como de cinemas e teatros. Ver uma fila enorme às 23h para a entrada num cinema/teatro é algo que não se observa noutras grandes cidades, pelo que fiquei positivamente surpreendido com a dinâmica cultural de Buenos Aires.

No domingo vagueei pelas ruas despidas de uma cidade aprisionada, já que as portas das lojas comerciais ou restaurantes estavam protegidas com vários aloquetes, numa tal profusão que só uma foto pode demonstrar a preocupação com uma segurança extrema (Só depois é que os colegas argentinos me disseram que não devia ter andado sozinho).

Pelo contrário, os cafés estavam abertos, sempre cheios, sendo um dos emblemas da cidade, recordando o encanto dos cafés de Paris ou de Viena de Áustria. Encantei-me por um, El Opera, e sempre que possível passava por lá para beber um cafezinho, acompanhado de um copito de água das pedras.

Entrei também na catedral de San Nicolás, onde está o museu Cardeal Jorge Mario Bergoglio, atual Papa Francisco, e por lá me cativei com a sumptuosidade e a simplicidade do edifício religioso. São as pequenas surpresas que, por vezes, conferem sentido a uma viagem ou à própria vida.

Por último, uma foto na Praça do Congresso, num dos muitos pontos verdes da cidade, cheia de sol e pessoas. Num banco de pedra, sem encosto, com um saco à tiracolo no ombro do lado esquerdo e com a palma da mão esquerda na cara, suportada pelo cotovelo pousado na perna, um homem, de chapéu castanho, botas também castanhas, blusão preto e calças cor de cinza branco, tem os olhos enterrados num livro, já com alguns anos, e parece ser um clássico da literatura argentina. Indiferente aos transeuntes, goza o seu privilegiado momento de leitura, confirmando a minha visão de cidade de Buenos Aires como uma verdadeira cidade da cultura.

 

 

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