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12 de Março de 2024 | José Augusto Pacheco
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Opinião

“Vacas de Coura, porcas de Miranda e mulheres de outra banda” é uma expressão em uso, seguramente mais no passado que no presente, pelas terras dos Arcos e da Barca, sem qualquer tom ofensivo ou sarcástico, já que apenas expressa um rasgado elogio.

Devo-a um amigo da Barca, e que hoje habita terras do Douro, que já conhecia pelo nome, e que por estes dias encontrei numa atividade profissional, numa das escolas do concelho de Guimarães.

Um amigo com quem tenho nomes em comum, tanto em Braga, como em Coura ou em Figueira de Castelo Rodrigo, na confirmação de que vivemos num mundo muito pequeno.

E entre amigos há uma infindável empatia que se nutre pelas raízes que brotam das terras de pertença!

Vamos então à expressão que desconhecia, por mais acirrados que sejam os bairrismos tão em voga nos territórios que gostam de exibir o seu lado afetivo.

Vacas de Coura: as mais lindas, as mais pujantes, as mais trabalhadoras, as mais encangadas (às quais é mais fácil pôr a canga ou o jugo)!

É natural que a expressão relativa às vacas de Coura fosse utilizada sobretudo pelos contratadores de gado, conhecendo, melhor do que ninguém, o trato dos animais e a sua proximidade aos humanos.

Porcas de Miranda: as tais boas parideiras, de tetas muitas e bem alimentadas de leite, capazes de uma reprodução abençoada pela boa sorte ou por um santo de uma qualquer devoção.

Do que mais me lembro da feira de baixo ou da feira de gado, em Coura, que hoje é o Largo 5 de outubro, é precisamente das porcas rodeadas de bacorinhos, entoando um coro quase inaudível de inocentes grunhidos, embora as tais vacas lindas ocupem a minha memória de infância, engalanadas para a festa da compra e da venda de uma mera sobrevivência.

Mulheres de outra banda … fazendo-se jus à ideia, certamente errada, de que o que é de fora é preferível ao que há na terra local, mormente para os homens quando decidiam ir às sortes, ou seja, procurar mulher de casamento.

Se esta frase faz parte ou não do imaginário dos homens, e cuja aplicação terá de ser universal, é indubitável que a formação das famílias tem sido feita, ao longo dos tempos, de cruzamentos muito diversos, na proporcionalidade possível da geometria do amor.

Talvez, por isso, compreenda melhor as escolhas conjugais dos meus antepassados que não se circunscreveram a Coura, havendo uma impressionante variedade de freguesias e concelhos, onde têm lugar destacado, por exemplo, Ferreira, Infesta, Parada e Cristelo, bem como Braga, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez ou Valença.

 

 

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