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20 de Outubro de 2015 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Há nomes de pessoas e lugares que jamais esquecemos, por mais distantes que estejam de nós. Hoje falarei de caminhos, dos seus nomes e de algumas memórias que me ficaram e que nunca me separei delas.

A minha infância em Coura passou-se num espaço delimitado entre a Vila e um dos seus lugares – Santa. Foi nesse espaço que fui crescendo, e nele estão muitas das memórias que não é possível apagar, mesmo que seja através de uma mera tecla de um computador, que se prime e logo tudo vai parar ao galheiro.

O caminho de Santa.

Primeiro, em terra batida, depois em calçada de pedras raras e, hoje em dia, numa estrada municipal.

Depois desse caminho, e estou já em viagem a pé para a Vila, passo a Volta da Quinta, e entro no caminho de Rande, de terra firme e de muitos castanheiros que faziam a separação entre os campos e o caminho. Entro, de seguida, na descida e logo inicio a subida, de campos altos e de muitas macieiras, que no inverno ofereciam as maçãs “larapas”, passando pela íngreme calçada da veiga antes de chegar à árvore frondosa, que, junto à cadeia, dava as boas vindas urbanas.

Lembro-me de pessoas, ofegando de cansaço, esperando que os brônquios aliviassem um pouco para que a subida terminasse o mais rápido possível. De igual modo, recordo-me das árvores de fruto, meticulosamente registadas na agenda da criançada, como se já usassem as coordenadas mais modernas de localização geográfica.

Mas se não quisesse seguir este percurso, tinha em alternativa mais três: pela estrada nacional, passando pelos muros altos e pelo lugar de Subal; pelo caminho dos putos, um carreiro bordejado por entre os campos de levadas cheias, que ia do fundo do lugar de Santa até ao final do caminho de Rande, mais precisamente até ao ribeiro, que hoje passa escondido na estrada asfaltada. Dizem-me que este caminho está intransitável, mas um dia ainda o quero confirmar.

O terceiro caminho em direção à Vila, e começando, mais uma vez, no fundo do lugar de Santa, chegava ao lugar de Cabanela, de ligação rápida ao campo do Testo e ao cemitério. Este caminho pura e simplesmente desapareceu com o crescimento de árvores que dão uma nova imagem ao lado de baixo da Vila, em direção ao rio Coura. Muitos campos deixaram de ser cultivados, por exemplo, alguns da casa da veiga, e as árvores tiveram espaço livre para crescer, formando uma copa verde que se estende como um anel em torno dessa parte da Vila.

Se fosse pela estrada nacional, coisa que raramente fazia, mesmo que os carros não passassem com a frequência de hoje, e depois de chegar ao atual quartel de bombeiros, havia um caminho muito estreito, por onde transitava para chegar à minha escola primária.

Chamavam-lhe a canecha.

E parece que do lado norte deixou de existir, havendo, ainda, uma entrada do lado sul, mas sem vestígios do muito usado caminho, de pedra feito ao longo de uma levada de água turbulenta nos dias mais invernosos.

E de caminhos somos feitos.

 

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